O conflito entre árabes e israelenses é daqueles assuntos que não saem das manchetes dos jornais, por motivos pra lá de óbvios. Entretanto, há alguns anos nos acostumamos a culpar apenas um dos lados do pas-de-deux do Oriente Médio: Israel. Lendo o livro (cuja capa ilustra este post) ficamos sabendo que a coisa não é bem assim.
O autor é Alan Dershowitz, um dos maiores advogados dos Estados Unidos. Por lá, defendeu o ex-jogador de futebol americano OJ Simpson e ajudou a absolvê-lo. Em 2003, numa entrevista à revista Veja, chegou a afirmar que o ex-boxeador Mike Tyson, a quem também defendeu, era um doce de pessoa, mas, frisou, nunca esteve com ele num quarto de hotel às três da manhã... Uma de suas palestras mais famosas intitula-se "Por que bons advogados defendem maus clientes?"
Dershowitz levou mais de trinta anos pesquisando antes de escrever "Em defesa de Israel". E creio que o esforço compensou. A estrutura do livro é na base de perguntas e respostas, com direito à acusação e à posterior defesa de em cada tópico.
Diz o autor:
"Pelo mundo todo, das comissões da ONU aos campi das universidades, Israel é discriminado com condenações, despojamentos, boicotes e demonizações. Seus líderes são ameaçados de processos como criminosos de guerra. Seus amigos são acusados de dupla lealdade e provincianismo.
(...) afirmo que todos que escolhem Israel como único alvo de uma crítica, que não é dirigida contra países com registros muito piores de violações de direitos humanos, são eles próprios culpados de intolerância internacional."
Lógico que por trás das acusações há um anti-semitismo que se move pelas sombras, que é velado. Dershowitz cita Thomas Friedman:
"(...) criticar Israel não é anti-semitismo, e afirmar isso é mau. Mas condenar Israel por infâmia e sanção internacional - desproporcionalmente em relação a qualquer outra parte no Oriente Médio - é anti-semitismo e não admiti-lo é uma desonestidade."
Dershowitz refuta a acusação de que Israel é um estado imperialista e colonialista. Refuta a idéia de que os judeus removeram palestinos de suas terras até porque como entidade geográfica "a Palestina tinha fronteiras incertas e em constante mudança. Não era uma entidade política em qualquer sentido significativo. Sob o regime otomano, que prevaleceu entre 1516 e 1918, a Palestina estava dividida em várias partes territoriais denominadas sanjaks. Esses sanjaks faziam partes de unidades administrativas chamadas de vilayets. A maior parte da Palestina pertencia ao vilayet da Síria e era governada de Damasco por um paxá, explicando, assim, por que geralmente se fazia referência à Palestina como Síria meridional. Depois de uma ocupação de dez anos pelo Egito nos anos de 1830, a Palestina foi dividida no vilayet de Beirute, que cobria o Líbano e a parte norte da Palestina (até onde hoje se situa Tel Aviv), e o sanjak independente de Jerusalém, que cobria aproximadamente de Jafa até Jerusalém e ao sul até Gaza e Beersheva. Assim, não está claro o que significaria dizer que os palestinos eram o povo que originalmente habitava a 'nação' palestina."
E mais:
"Outros historiadores, demógrafos e viajantes descreveram a população árabe como 'decrescente', e o país como 'pouco povoado', 'desocupado', 'desabitado' e 'agora quase abandonado'. A planície de Sharon, que os judeus da primeira Aliyah posteriormente cultivaram, era descrita pelo reverendo Samuel Manning, em 1874, como uma 'terra sem habitantes' que 'poderia suportar uma imensa população'.
Além disso, as condições de vida local antes da chegada dos refugiados europeus era pouco invejável. Apenas uma pequena proporção da população sabia ler ou escrever. Os cuidados com a saúde eram abomináveis, a mortalidade infantil alta, a expectativa de vida curta e a água escassa. Tudo isso iria melhorar de forma considerável depois da chegada dos judeus.
(...)
O mito de uma população palestina-árabe-muçulmana estável e estabelecida, que havia vivido nas pequenas cidades e trabalhando a terra durante séculos, apenas para ser usurpada pelos invasores sionistas, é simplesmente inconsistente com os dados demográficos colhidos e registrados não pelos judeus ou sionistas, mas pelas próprias autoridades locais."
Para completar:
"O rei Abdullah, da Jordânia, também reconheceu que a história do deslocamento [forçado] de palestinos era uma ficção, ao reconhecer que 'os árabes são tão pródigos na venda de suas terras como são pródigos... ao chorar [por causa disso]."
Nas próximas onze semanas, sempre às sextas, continuarei postando a resenha (imensa) que fiz sobre o livro de Dershowitz. Não sei bem se é uma resenha ou um resumo comentado... Enfim...
No dia 13 de junho, falaremos de Husseini, uma figura "gente boa", considerado um "gigante" por Yasser Arafat, que alguns de vocês terão o desprazer de conhecer. Também no próximo capítulo, falaremos sobre o mito que diz que Israel sempre rejeitou a solução de dois estados na Palestina.