Walt Kowalski (Clint Eastwood) mora num país que não existe mais. Patriota, veterano da Guerra da Coreia, tem encravado na sua cabeça a ideia de propriedade muito embora nenhuma cerca delimite a sua. Odeia os asiáticos que resolveram se instalar exatamente no seu bairro. Ele é um dos últimos americanos que moram lá. Trabalhou por 50 anos na Ford e agora vê um dos seus dois filhos (com os quais não se dá) vender carros japoneses.
Na casa ao lado mora uma família da etnia hmong - e isso é importante frisar não pela trama em si, mas por se tratar do povo que quase foi dizimado pelos comunistas depois que os americanos saíram do Vietnã. O caçula da família, Thao, é praticamente obrigado a entrar para uma gangue oriental que assola a comunidade e Walt, aos poucos, percebe que não haverá saída para o jovem, cujo batismo de fogo para entrar - a contragosto, diga-se - para a "turma" é roubar o Gran Torino 72, orgulho de Kowalski. O único caminho que Walt Kowalski vislumbra para Thao é colocá-lo para trabalhar para que ele possa bancar seus estudos. Ironicamente, o racista matador de chineses e coreanos na guerra livra o garoto oriental do submundo num trabalho de dar inveja a muita ONG por aí financiada com o abençoado dindim dos cofres públicos.
Vemos a ética do trabalho contra o blá-blá-blá do multiculturalismo de boteco. A ética do trabalho contra a desculpa da "violência enquanto produto da pobreza".
Não é à toa que considero Eastwood um dos melhores diretores vivos. Se não for o melhor.