segunda-feira, 14 de julho de 2008

STÁLIN, A CORTE DO CZAR VERMELHO, de Simon Sebag Montefiore

Sim, meu passado tem uma mancha. E foi ter pertencido a uma entidade estudantil de esquerda, a UJS. Tá, não fui um militante lá muito convicto, mas não posso negar: tinha carteirinha e ouvia, fascinado, as explanações dos membros daquela estrovenga acerca das qualidades de Stálin. Sim, eles diziam com os olhos brilhantes: até aquela data, mesmo depois da queda do infame Muro de Berlim (idéia do czar vermelho), os russos adoravam Stálin, tanto que havia ainda peregrinações ao seu mausoléu. Ao relatar isso a um senhor amigo meu, muito gaiato, ele rebateu:

- Os russos vão até lá pra ter certeza de que ele está morto!

Graças a Deus, está. E eu saí da UJS (quer dizer, na verdade, esqueci aquilo lá), cujo exemplo de país era a Albânia. Sim, o sonho da juventude socialista era que o Brasil se transformasse em Albânia.

Bom, vamos falar do livro de Montefiore, que é excelente. O autor mostra um Stálin longe da figura de monstro full time: era um bom cantor, um pai adorável, um marido apaixonado, um homem bem-humorado. Mas também não era um docinho 24 horas por dia: teimoso, sádico, mentiroso, paranóico. Stálin foi um dos maiores assassinos da História.

Sob sua mão de ferro, um verdadeiro estado de terror se implantou na União Soviética. Deportações, seqüestros, prisões arbitrárias, e sangue, muito sangue para que as engrenagens do regime não cessassem de girar.

Além da figura do Vojd, o livro conta a história das pessoas do entorno de Stálin. Sua corte era corrupta, devassa, desumana. Sim, os homens que queriam criar o "novo homem", que enchiam a boca para falar de "liberdade", "povo" e "democracia" eram mais baixos que o "homem velho" que queriam destruir. Duas figuras me chamaram bem a atenção como se segue no parágrafo abaixo.

Só mesmo num regime altamente fechado, hipócrita e demagógico, um homem como Nikita Khruschióv pode denunciar, na maior cara-de-pau os crimes de Stálin, quando se sabe, hoje em dia, que sua sede de sangue não era nem um pouco menor do que de Ióssif Vissariónovitch. Lavrenti Béria, um personagem formidável, chefe do NKVD, a polícia política, assassino contumaz que acabou por ser engolido pela própria máquina que criou, foi, quem diria, um pré-Gorbachov, que logo depois da morte do "Czar Vermelho" (a quem passou a tratar com imenso desprezo), queria abrir o regime, libertar presos políticos, acabar com o Terror e liberar a economia.

Inegável o fato de que o Exército Vermelho ajudou a enterrar os nazistas na Segunda Grande Guerra. A bem dizer, Montefiore afirma que Stálin foi o grande vencedor do conflito. Mas estamos longe de falar de um "guia genial" que tirava da manga as soluções para derrotar os traidores nazistas - não esquecer que Stálin e Hitler eram assim, ó... Stálin ganhou a parada, mas o que impressiona é a sua incapacidade de agir em determinados momentos, seu desespero a ponto de pensar que iria ser o responsável pela destruição de "tudo o que Lênin construiu", sua mania de se meter nas decisões de generais. Enfim, um trapalhão que por muito pouco não levou o seu país à ruína.

Assim como estou fazendo com "El regreso del idiota", também publicarei trechos de "Stálin, a corte do czar vermelho". Vocês vão conhecer vários dirigentes soviéticos, várias personagens que, a pretexto de acabar com o regime truculento do czar, acabaram por criar um regime mais sangrento, mais cruel e mais desumano do que o que ajudaram a derrubar.