quinta-feira, 21 de agosto de 2008

AS ALEGRES COMADRES DE WINDSOR, de William Shakespeare

Não, não e não. Não sou nenhum profundo conhecedor da obra do bardo de Stratford-On-Avon. Não sou nenhuma Barbara Heliodora, crítica de teatro e especialista no texto do dramaturgo. Mas gosto de ler peças de teatro. Aliás, gosto de ler qualquer coisa e sempre agradeço ao sujeito que inventou essas 26 letrinhas que se juntam e que podemos ler, da esquerda para a direita, para nos deliciar com o que ali vai escrito.

Ora, estando eu na minha dacha de campo, lá pros interiores de Minas Gerais e fazendo uma arrumação num lugar onde faremos obras, descobri alguns livros que, imediatamente, separei. Dois deles eram peças de Shakespeare. O primeiro, continha as tragédias. Das que estão no volume, já li duas: "Romeu e Julieta" e "Hamlet". O segundo traz as comédias. Já li "A megera domada", uma peça que podemos chamar de arquetípica e já inspirou umas 50 novelas de TV. Tanto como trama principal como trama secundária.

Nunca tinha lido "As alegres comadres de Windsor", uma das peças presentes no volume de comédias. E confesso que me diverti bastante com as peripécias de Sir John Falstaff. A versão que tenho aqui é daquele tempo em que se traduziam para o português alguns nomes. John é tratado como João - coisa que eu não gosto muito. Nome é nome...

Vamos à peça. Ela tem uma trama principal que nos conta a tentativa do gorducho Falstaff, metido a garanhão, de passar na cara duas mulheres casadas, a senhora Ford e a senhora Page. Através de um pajem, ele manda uma carta para cada uma e com os mesmos dizeres. Conversando entre si, as comadres descobrem a marmota de Falstaff e decidem se vingar dele. O problema é que o marido da senhora Ford é pra lá de ciumento e pensa ser verdade que a sua mulher queira mesmo pular a cerca com o gorducho luxuriento. As confusões, os encontros e desencontros, vão se sucedendo até que, enfim, elas conseguem se vingar do safardana.

O enredo secundário conta a história da senhorita Ana Page. Ela é cobiçada por três homens: Slender, doutor Caius e Fenton. Slender é o favorito do pai. Sim, o senhor Page quer por que quer que a filha se case com ele. Caius é o preferido da senhora Page. Fenton corre por fora. E não é bem visto pelos pais da moça, porque é acusado de ter torrado a grana que herdara da família e os Page, não sem muita razão, temem que ele só esteja de olho em Ana (ou Anita, como é chamada) pra recurperar o que não conseguiu segurar, ou seja, a grana dos seus pais. O final deste enredo é bem divertido.

Shakespeare era um grande adaptador. Todas as peças suas que eu li não eram obras originais. Ele usava outras fontes e as recriava com tanto brilho que as obras, sem dúvida, passavam a ser só dele. Não era um plagiador, como já li muitas vezes por aí. "As alegres comadres de Windsor", por exemplo, foi baseada em uma outra peça, "Le Tredici Piacevoli Notte", de Straparola. Há ainda outras fontes - sim, estou colando as informações dos dados contidos no livro - como "Il Pecorone", de Giovanni Fiorentino, "Barnabe Riche his farewell do militarie profession", de Barnabie Riche etc.

Foi escrita em quinze dias já que a Rainha Isabel tinha pressa e queria assistir de uma vez às desventuras amorosas de John Falstaff

Ainda segundo a minha "colinha", escrita por um dos tradutores da peça, F. Carlos de Almeida Cunha Medeiros (nome bom pra se pedir empréstimo em banco, hein?), é a única peça de Shakespeare "em que a classe média provinciana é retratada com interesse e cuidado."

(Foto do post meramente ilustrativa. Já disse que minha edição não é esta...)