quinta-feira, 21 de agosto de 2008

STÁLIN (7): O MASSACRE DOS KULAKS



"Em janeiro de 1928, Stálin foi pessoalmente à Sibéria investigar a queda de produção de grãos. Reencenando seu glorioso papel de comissário da gierra civil, ordenou a colheita compulsória e pôs a culpa da escassez nos chamados kulaks, que estavam retendo suas colheitas na esperança de obter preços maiores.

Em geral, kulak significava um agricultor que empregava alguns lavradores ou possuía algumas vacas. 'Dei uma boa sacudida nos órgãos do Partido', disse Stálin mais tarde, mas ele logo descobriu que 'os direitistas não gostavam de medidas duras [...] eles achavam que era o começo de uma guerra civil nas aldeias'. Ao retornar, o premiê Ríkov o ameaçou: 'Acusações criminais poderão ser feitas contra você!"
NOTA: Direitista aqui não é dito no sentido utilizado, por exemplo, no Brasil. Os direitistas citados eram uma corrente dentro do Partido. Dela faziam parte Nikolai Bukhárin e Alexei Ríkov (citado no trecho acima) e que era o premiê que havia sucedido Lênin. Tanto Bukhárin quanto Ríkov eram aliados de Stálin, só que mais moderados. Não demoraria muito para que ambos se arrependessem de serem aliados de Koba...

"Stálin era um radical por natureza e então roubou descaradamente as roupagens dos esquerdistas que acabara de derrotar [Trostki e companhia]. Ele e seus aliados já estavam falando de uma nova e definitiva revolução, a 'Grande Virada' à esquerda para resolver o problema do campesinato e do atraso econômico. Esses bolcheviques odiavam o velho mundo obstinado dos camponeses: eles deveriam ser levados para fazendas coletivas, e sua produção, confiscada e vendida no exterior para financiar uma industrialização instantânea que produzisse tanques e aviões. Acabou a venda privada de alimentos. Os kulaks receberam ordens para entregar a sua produção e seriam processados como especuladores se não o fizessem. Aos poucos, os próprios aldeões foram forçados a entrar em fazendas coletivas. Quem resistisse, era um kulak inimigo.

Do mesmo modo, na indústria, os bolcheviques desencadearam seu ódio aos técnicos, ou 'especialistas burgueses' - na verdade, apenas engenheiros de classe média. Enquanto treinavam sua própria elite vermelha, intimidaram aqueles que diziam que os planos industriais de Stálin eram impossíveis com uma série de processos falsos, que começaram na mina de carvão de Chakhti. Nada era impossível. O pesadelo rural resultante foi como uma guerra sem batalhas, mas com mortes em escala monumental."

A perseguição aos kulaks não era novidade. Já em 1917, Lênin, este primor de humanismo, de amor ao próximo já tinha decretado:

"Terror de massa impiedoso contra os kulaks [...] Morte a eles!"
Isso estava longe de ser uma bravata.

"Qualquer dúvida era traição. A morte era o preço do progresso".

"[...] os líderes perceberam que precisavam acelerar sua guerra no campo e literalmente 'liquidar os kulaks como classe'. Desencadearam uma guerra da polícia secreta em que a brutalidade organizada, a pilhagem criminosa e a ideologia fanática se combinaram para destruir a vida de milhões.


(...)


Em janeiro de 1930, Mólotov planejou a destruição dos kulaks, que foram divididos em três categorias: 'Primeira categoria: [...] a ser eliminada imediatamente'; a segunda deveria ser aprisionada em campos de trabalho; a terceira, 150 mil famílias, deveria ser deportada. Mólotov supervisionava os esquadrões da morte, os trens, os campos de concentração como um comandante militar. Entre 5 e 7 milhões de pessoas caíram finalmente nas três categorias. Não havia maneira de selecionar um kulak: o próprio Stálin se afligia, escrevendo em suas anotações: 'O que significa kulak?''.
Mesmo assim, não moveu uma palha para acabar com a matança. Em 1930-31, certa de 1,68 milhão de pessoas foram deportadas.

"Em poucos meses, o plano de Stálin e Mólotov levara a 2200 rebeliões envolvendo mais de 800 mil pessoas. (...) Os camponeses acreditavam que podiam forçar o governo a parar destruindo os próprios animais: o sentimento que podia levar um camponês a matar seus animais, o equivalente em nosso mundo a tocar fogo em nossa casam dá uma medida da escala do desespero: 26,6 milhões de cabeças de gado foram mortas, 15,3 milhões de cavalos. A 16 de janeiro de 1930, o governo decretou que a propriedade dos kulaks podia ser confiscada se eles destruíssem os animais. Se pensavam que os bolcheviques seriam obrigados a alimentá-los, os camponeses estavam enganados."
OUTRA NOTA: O Mólotov citado num dos trechos acima é o mesmo do coquetel. Seu nome completo era Viatcheslav Mólotov e um dos seus apelidos eram "Cu-de Pedra". "Cruel e vingativo", não podia ser contrariado, caso contrário recomendava a morte de quem se atrevesse a isso. Era também "ríspido com seus subordinados" e considerado um diligente sem inspiração.