segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

FASCISMO DE ESQUERDA - PARTE 3

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A terceira parte deste “bate-papo” com respostas tiradas do livro “Fascismo de esquerda”, de Jonah Goldberg. Aqui falamos um pouco de eugenia, Ku Klux Klan entre outros assuntos que a esquerda, ansiosamente, tenta esconder.

1. A direita americana é contantemente instada a assumir os capítulos mais negros da história do país: os acordos segregacionistas, os excessos mccarthistas, o isolacionismo na Segunda Guerra e assim por diante. Isso é correto?

Raramente se menciona o lado da esquerda nessas histórias. O Partido Democrata abrigou leis e práticas segregacionistas, conhecidas nos Estados Unidos como Jim Crow durante um século. A Ku Klux Klan tem raiz democrata. O liberalismo americano era tão isolacionista quanto o conservadorismo. A histeria progressista contra os comunistas, com o Red Scare, fazia o mccarthismo parecer debate de universidade. Os sucessivos presidentes democratas ordenaram a detenção de sino-americanos, a disseminação da vigilância doméstica de inimigos políticos e o uso de bombas atômicas contra o Japão. Os comunistas leais a Moscou deduravam trotskistas heréticos. Falta perguntar por que o progressismo - e não o conservadorismo - era tão favoravelmente inclinado à eugenia.

2. Por falar  em eugenia, muitos intelectuais famosos eram a favor dela.

Sim. Bernard Shaw, H. G. Wells, John Maynard Keynes, Aldous Huxley. Todos eram a favor da eugenia. Os progressistas, e aqui falamos dos Estados Unidos, viviam obcecados pela "saúde racial" da nação, supostamente ameaçada por ondas crescentes de imigração e pela superpopulação de americanos nativos. Muitos dos projetos progressitas de destaque, desde a Lei Seca até o movimento pelo controle de natalidade, baseavam-se nessa busca de soluções para domesticar a besta demográfica. O conservador católico Chesterton foi submetido a um implacável desprezo por sua oposição à eugenia. [Observação: político sul-americano importante, Salvador Allende, tão endeusado pelas esquerdas, era eugenista.]

3. Isso quer dizer que é impossível não ver o progressismo como um empreendimento fascista - pelo menos de acordo com os padrões que usamos hoje?

Os historiadores liberais reconhecem consensualmente que o progressismo resiste a uma definição fácil. Mas a explicação talvez seja simples: identificar o progressismo de forma adequada seria muito inconveniente para a esquerda, pois isso exporia seu projeto eugênico.

4. Como a esquerda contesta sua proximidade com a eugenia?

Seus representantes dizem que os progressistas da época apenas eram homens de seu tempo. Mas essa é uma explicação que não resiste a uma análise mais profunda.

5. Por quê?

Em primeiro lugar, os eugenistas progressistas tinham adversários que não eram progressistas e eram antieugênicos: conservadores prematuros, libertários radicais e católicos ortodoxos - gente que os progressistas chamavam de retrógrados e reacionários.

Em segundo lugar, argumentar que progressistas eram produtos de seu tempo simplesmente reforça meu argumento de que o progressismo foi gerado num momento fascista e nunca quis encarar sua herança.

Enquanto a esquerda continua cega às ameaças fascistas que vêm de suas próprias fileiras, continuam atacando os dogmas religiosos e os políticos conservadores. Quem rejeita a clonagem? Quem se sente mais incomodado com a eutanásia, o aborto e o ato de brincar de Deus em laboratório? Uma nação conservadora de verdade, coisa que já não somos, nem ficaria se perguntando se destruir um blastócito ou um feto de oito meses é um assassinato. Quanto mais bebês defeituosos.

6. Ainda falando em eugenia, qual a principal linha divisória entre os progressistas em relação ao assunto?

Esta linha não era entre eugenistas e não eugenistas ou entre racistas e não racistas. Era entre defensores da "eugenia positiva" e da "eugenia negativa", entre aqueles que se chamavam humanistas e aqueles que subscreviam as teorias de suicídio da raça, entre ambientalistas e deterministas genéticos.

7. O que defendiam os "eugenistas do bem"?

Defendiam a ideia de que bastaria encorajar, bajular e subsidiar os mais aptos para que se reproduzissem mais e os não aptos para que se reproduzissem menos.

8. O que defendiam os "eugenistas do mal"?

Operavam ao longo do espectro que ia desde a esterlilização forçada até o aprisionamento, pelo menos durante os anos reprodutivos.

9. E quanto aos ambientalistas?

Eles enfatizavam que a melhoria das condições materiais das classes degeneradas melhoraria seu infortúnio. Já os teorias do suicídio da raça acreditavam que linhagem e classes inteiras de pessoas estavam além da possibilidade de salvação.

10. E quanto aos oponentes da eugenia?

Eram os conservadores. Os progressistas os chamavam de "darwinistas sociais". Foi o termo que usaram para descrever qualquer um que se opusesse à noção de que o Estado deve "interferir" agressivamente na ordem reprodutiva da sociedade. Na lógica artificial da esquerda, aqueles que se opunham à esterilização forçada dos "inaptos" e dos pobres eram os vilões, pois deixavam um "estado de natureza" reinar entre as classes inferiores. A instituição que mais se destacou no combate à eugenia foi a Igreja Católica. Foi a sua influência na Itália que tornou o fascismo menos obcecado pela eugenia que os progressistas americanos e os nazistas.

11. E a Klu Klux Klan?

O rótulo de fascista dado á KKK faz bastante sentido. Já o de direitista, não. A Klan da Era Progressista, surgida na segunda década do século XX, não era a mesma Klan que surgira em 1865, depois da Guerra Civil. Era uma coleção frouxa de organizações independentes que se espalhavam pelos Estados Unidos. O que as unia, além do nome e dos trajes absurdos, era que todas se inspiravam no filme “O nascimento de uma Nação”. Eram, na realidade, uma “subcultura repulsiva” de fãs do filme.

12. E a KKK da década de 1920?

Esta era vista como reformista e moderna, e tinha uma relação íntima com alguns elementos progressistas do Partido Democrata. O jovem Harry Truman, bem como Hugo Black, futuro juiz da Suprema Corte, estavam entre os seus integrantes. E a KKK era menos racista do que a academia.

13. Em que se sustenta hoje o liberalismo [a esquerda] nos Estados Unidos?

Ela se sustenta em três pilares: apoio ao Estado de bem-estar social, aborto e política de identidade. Obviamente, esta é uma formulação grosseira. O aborto, por exemplo, poderia ser integrado à política de identidade, já que o feminismo é um dos credos que exaltam a “jaula de ferro” (no sentido weberiano) da identidade.

14. O maior recurso da esquerda em discussões sobre racismo, sexismo e o papel do governo de modo geral é a suposição implícita  de que as intenções da esquerda são melhores e mais elevadas do que as do conservadorismo.

Tudo pose. O clichê diz: “Os liberais pensam com o coração, e os conservadores pensam com a cabeça.” Mas se levarmos em conta a história do liberalismo, é claro que essa vantagem é injusta, uma base intectual roubada. Os liberais podem estar certos ou errados a respeito de determinada política, mas a suposição de que estão automaticamente defendendo a posição mais virtuosa é pura besteira.

15. Como era o projeto do Estado de bem-estar social americano?

Era um projeto racial e eugênico desde a sua concepção. Os autores progressistas do socialismo do bem-estar social estavam interessados não em proteger os fracos das devastações do capitalismo, como afirmam os liberais modernos, mas em extinguir, como ervas daninhas, os fracos e inaptos, para assim preservar e fortalecer o caráter anglo-saxão da comunidade racial americana.

16. Existe alguma relação entre os progressistas americanos e os nazistas no que diz respeito à saúde moral e física?

Sim. O bem comum se sobrepõe ao bem privado. Foi essa bandeira que a Alemanha levou a extremos totalitários. A Lei Seca foi a principal ilustração disso na América e os nazistas olhavam com bons olhos este esforço americano. O álcool alimentaria a licenciosidade das raças mestiças inferiores. Na Alemanha, a principal preocupação era que o álcool e os ainda mais desprezados cigarros levassem à degenerescência da pureza ariana alemã. O tabaco recebia o crédito por todos os males imagináveis, inclusive de promover a homossexualidade.

17. Margaret Sanger é considerada uma santa liberal, uma santa de esquerda, uma fundadora do feminismo moderno. Foi a fundadora também do movimento pelo controle da natalidade e da Planned Parenthood, que todo ano concede os Prêmios Maggie a esquerdistas famosos. Estar do lado dela é estar do lado “certo”?

Depende. Margaret Sanger era uma completa racista. Sob a bandeira da “liberdade de concepção”, Sanger apoiou todas as bandeiras eugênicas. Buscou proibir a reprodução de inaptos e regular a reprodução de todas as pessoas. Ela escarnecia da abordagem cautelosa de eugenistas “positivos”, ridicularizando-os como mera “competição pelo berço”. Até hoje seus admiradores tentam minimizar este seu lado. Aliás, ficam ansiosos por isso. Talvez para se acharem do lado “certo”…

18. E conseguem?

Só fazendo um esforço muito grande. Uma pessoal imparcial não pode ler os livros, artigos e panfletos de Sanger sem encontrar semelhanças com a eugenia nazista. Ela publicava textos com o tipo de racismo extremado que associamos a Goebbels ou Himmler. Sua revista, Birth Control Review, apresentava os nazistas sob uma luz positiva. Publicava artigos de Ernst Rüdin, o diretor de esterilização de Hitler e um dos fundadores da Sociedade Nazista para a Higiene Racial.

19. Qual foi a razão do sucesso de Sanger?

Foi promover a campanha pelo controle social associando a campanha racista-eugênica a prazer sexual e liberação feminina. Em seu “Código para parar a superprodução de crianças”, de 1934, ela decretou que “nenhuma mulher terá o direito legal de gerar um filho sem permissão… Nenhuma permissão será válida para mais de um filho.” Ela argumentava que a maternidade era uma restrição socialmente imposta à liberdade das mulheres.

20. O que foi o Projeto Negro de Sanger?

Em 1939, ela contratou ministros negros por meio da Federação de Controle da Natalidade. Contratou também médicos e outros líderes para podar a supostamente excessiva população negra. A intenção racista está acima de qualquer dúvida. Ela afirmava:

A massa de significativo número de negros ainda se reproduz descuidada e desastrosamente, e isso resulta em que o número de negros ocorra naquela porção de população menos inteligente e apta.

Hoje, a intenção de Sanger pode parecer chocante, mas ela reconhecia seu extremo radicalismo. É possivel que Sanger não quisesse “exterminar” os negros. Mesmo assim, muitos negros viram o projeto desse modo e começaram a lançar suspeitas sobre o projeto. Em 1977, uma pessoa que via a relação, por exemplo, entre aborto e raça de uma perspectiva menos confiante, mandou um telegrama ao Congresso para dizer que o aborto era o mesmo que “genocídio contra a raça negra”. E acrescentou em caixa alta: “POR UMA QUESTÃO DE CONSCIÊNCIA, TENHO QUE ME OPOR AO USO DE FUNDOS FEDERAIS PARA UMA POLÍTICA DE MATAR CRIANCINHAS”. O nome dessa pessoa era Jesse Jackson. Talvez seja desnecessário dizer que ele mudou de posição sem o menor problema quando decidiu disputar a indicação do Partido Democrata.

A primeira parte desta série está aqui.

A segunda, você acha aqui.

E a série ainda não terminou. Aguardem a 4ª parte.