quinta-feira, 4 de setembro de 2008

A BÍBLIA NÃO TINHA RAZÃO (6): O ÊXODO EXISTIU? - 1

Um papiro do final do século XIII a.C. registra quão estritamente os comandantes dos fortes monitoravam o movimento de estrangeiros: "Nós completamos a entrada das tribos do edomita shadu (i.e. beduínos), através da fortaleza de Meneptah-Contente-com-a-Verdade, que é em Tjkw*, até os poços de Pr-Itm** que estão em Tjkw para manutenção de seus rebanhos."

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A fronteira entre Canaã e o Egito era, portanto, estritamente controlada. Se uma grande massa de israelitas fugitivos tivesse passado pelas fortificações de fronteira do regime faraônico, deveria existir um registro. Ainda assim, nas abundantes fontes egípcias que descrevem a época do Novo Império em geral, e o século XIII em particular, não há referência aos israelitas, nem mesmo uma única pista. Sabemos sobre grupos nômades de Edom que entraram no Egito pelo deserto. A estela de Meneptah se refere a Israel como um grupo de pessoas que já viviam em Canaã. Mas não há pistas, nem mesmo uma única palavra, sobre antigos israelitas no Egito: nem nas inscrições em túmulos, nem em papiros. Israel inexiste como possível inimigo do Egito, como amigo ou como nação escravizada. E simplesmente não existem achados arqueológicos no Egito que possam estar associados de forma direta com a noção de um grupo étnico distinto (em oposição a uma concentração de trabalhadores migrantes de muitos lugares), vivendo numa área específica a leste do delta, como subentendido no relato bíblico sobre os filhos de Israel vivendo juntos na terra de Gessen (Gênesis 47,27).

Há algo mais: parece altamente impossível como também é a travessia do deserto e o ingresso em Canaã, que um grupo, mesmo que pequeno, pudesse fugir do controle egípcio na época de Ramsés II***. No século XIII a.C., o Egito estava no auge de seu poder e autoridade, o poder dominante do mundo. O controle sobre Canaã era firme; fortalezas foram construídas em diversas partes do país, funcionários egípcios administravam assuntos da região.

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Pondo de lado a possibilidade de milagres inspirados divinamente, não é razoável aceitar a idéia de fuga de um grande grupo de escravos do Egito, através de fronteiras fortemente vigiadas por guarnições militares, para o deserto e depois para Canaã, numa época com colossal presença egípcia na região. Qualquer grupo escapando do Egito contra a vontade do faraó teria sido rapidamente capturado, não apenas por um exército egípcio que o perseguiria desde o delta, mas também por soldados egípcios dos fortes no norte do Sinai em Canaã.

* Tjkw é mencionado na Bíblia em sua forma hebraica Sucot. (Êxodo 12,37; Números 33,5)

** Pr-Itm também: é Pitom (Êxodo 1,11)


*** Ramsés II não era o faraó na época estimada do Êxodo, século XV a.C. O primeiro faraó com este nome chegou ao trono no século XIII a.C. Portanto, os estudiosos recalcularam a data do Êxodo para o século XIII, pois acreditam que a referência bíblica específica ao nome de Ramsés é um detalhe que preservou memória histórica autêntica.