sexta-feira, 3 de outubro de 2008

A BÍBLIA NÃO TINHA RAZÃO (11): O GLORIOSO REINO DE DAVI? - 2

A evolução das regiões montanhosas de Canaã em duas sociedades organizadas foi um desenvolvimento natural. Não existe nenhuma evidência arqueológica de que essa situação no norte e no sul tenha surgido de alguma unidade política anterior, em particular de uma centralizada no sul. Nos séculos X e IX a.C., Judá ainda era muito espalhado no que diz respeito ao povoamento, com número limitado de pequenas aldeias, de fato não muito além de vinte, mais ou menos. Há boa razão para acreditar, tanto pelas estruturas diferenciadas dos clãs como pleos achados arqueológicos, que ali o segmento pastoral da população era significativo. E não temos ainda sólida evidência arqueológica - a despeito das incomparáveis descrições bíblicas de sua grandeza - de que Jerusalém não passava de uma modesta aldeia montanhosa na época de Davi, de Salomão e de Roboão. Ao mesmo tempo, a metade norte das regiões montanhosas - em especial os territórios que sabidamente escaparam da monarquia unificada - era ocupada por dúzias de sítios, por um sistema bem desenvolvido de assentamentos que incluía amplos centros regionais, aldeias de todos os tamanhos e pequenas vilas. Resumindo, enquanto Judá ainda era marginal e atrasado, sob o aspecto econômico, Israel florescia.

De fato, Israel caminhava muito bem para se tornar um Estado completamente desenvolvido, a poucas décadas do final presumido da monarquia unificada, por volta de 900 a.C. Por completamente desenvolvido queremos dizer: um terrirtório governado por uma máquina burocrática, que se manifesta na estratificação social confirmada pela distribuição de itens de luxo, porgrandes projetos de construção e por próspera atividade econômica, incluindo o comércio com as regiões vizinhas e um sistema de assentamento completo e desenvolvido.

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Existe também grande diferença no planejamento e desenvolvimento das cidades que sediavam as capitais; Samaria, capital do reino do norte [Israel], foi instalada como um grande e suntuoso centro de governo, no começo do século IX, e Jerusalém só foi completamente urbanizada no final do século VIII a. C.

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Não há dúvida de que os dois Estados da Idade do Ferro - Israel e Judá - tinham muito em comum. Ambos veneravam YHWH (entre outras deidades). Seus povos partilhavam inúmeras lenda, heróis e contos sobre eventos de seu passado distante. Eles também falavam a mesma língua, ou dialetos do hebraico, e por volta do século VIII a.C. ambos usavam a mesma escrita. Mas também eram muito diferentes, entre si, em sua composição demográfica, potencial econômico, cultura material e relacionamento com os seus vizinhos. Resumindo, Israel e Judá vivenciaram histórias bem diferentes e desenvolveram culturas distintas. De certo modo, Judá era um pouco mais que a hinterlândia rural de Israel.