quinta-feira, 13 de novembro de 2008

A BÍBLIA NÃO TINHA RAZÃO (15): PRÁTICAS PAGÃS ERAM NORMAIS ATÉ EM JUDÁ

Os livros dos Reis são explícitos na sua descrição de apostasia, que provocou tanto infortúnio no Reino de Judá. Essa apostasia é registrada em detalhes típicos no relato sobre o reinado de Roboão (...) (1 Reis, 22-24)

Como na época do rei Acaz, cerca de duzentos anos mais tarde, a natureza dos pecados parecia ser substancialmente a mesma. Acaz foi apóstata notório, que seguiu os passos ímpios dos reis de Israel e inclusive queimou seu filho como oferenda (2 Reis 16, 2-4).

Estudiosos bíblicos demonstraram que essas não eram práticas pagãs isoladas e arbitrárias, mas parte de um complexo de rituais que apelavam para os poderes celestiais, para a fertilidade e o bem-estar do povo e da terra. Em sua representação externa, eles se parecem com práticas usadas pelos povos vizinhos para honrar e receber as bençãos de outros deuses. De fato, os achados arqueológicos de figuras de barro, de altares de incenso, de vasos de libação e de plataformas de oferendas, em todo o território de Judá, sugerem que a prática da religião era bem variada, geograficamente descentralizada e, com certeza, não restrita à adoração de YHWH no Templo de Jerusalém.

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A existência de lugares elevados - ou altares em camo aberto - e outras formas de veneração ancestral ou familiar a deuses não eram, como os livros dos Reis afirmam, a apostasia de uma fé antiga e mais pura. Era parte de uma tradição intemporal dos colonos assentados na zona rural montanhosa de Judá, que veneravam YHWH junto com uma variedade de deusas e deuses, conhecidos e adaptados de cultos de povos vizinhos. Em resumo, YHWH era venerado de uma ampla variedade de modos e, algumas vezes, retratado como possuindo um grande séquito celestial. De evidência indireta e definitivamente negativa dos livros dos Reis, aprendemos que os sacerdotes na área rural também queimavam incenso, com regularidade, nos altares ao ar livre, para o sol, a lua e as estrelas.

Como os lugares elevados eram presumivelmente áreas abertas ou cumes naturais das colinas, não foram identificados traços de sua existência. Assim, a evidência arqueológica mais clara e definitiva da popularidade desse tio de prática religiosa, em todo o reino, é a descoberta de centenas de figuras de barro de deusas da fertilidade nuas em todos os sítios da antiga monarquia em Judá. Ainda mais sugestivas são as inscrições encontradas no antigo sítio do século VIII de Kuntillet Ajrud, no nordeste do Sinai, sítio que mostra laços culturais com o reino do norte. Essas inscrições parecem se referir à deusa Asherat como sendo a esposa de YHWH. E, antes que se diga que a condição matrimonial era simplesmente uma alucinação pecaminosa do norte, uma fórmula de certo modo similar falando de YHWH e da sua Asherat aparece numa inscrição monárquica posterior, da região de Shephelah, de Judá.

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Assim, os grandes pecados de Acaz e de outros reis ímpios de Judá não deveriam ser considerados excepcionais, de nenhuma maneira. Esses governantes apenas permitiram que as tradições rurais continuassem inalteradas. Eles e muitos súditos expressavam sua devoção a YHWH em ritos realizados em incontáveis túmulos, santuários e lugares elevados em todo o território do reino, com a ocasional e subsidiária veneração a outros deuses.