sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

O PLANALTO EM CHAMAS, de Juan Rulfo

O título original é "El llano en llamas", um jogo de palavras como se vê. Há uma tradução em português cujo título é "O chão em chamas", mais próximo da intenção de Rulfo. Mas a versão que eu li é esta e vou mantê-la no título do post.

O "llano" em questão é o planalto mexicano, que, a se tirar pelas histórias contadas no livro, é uma terra de ninguém, desolada, mais quente e abafada que o Rio de Janeiro de hoje. Dá até a impressão de que vai sobrar uma bala para quem está lendo um dos contos, já que a violência é quase uma razão de ser de todas as histórias.

Sim, há contos excelentes. Um exemplo é "Diga a eles que não me matem". Mas o que me chamou mais a atenção é um chamado "Anacleto Morones" - e aqui paro de falar exclusivamente no livro e passo a tratar de mais uma coincidência dessas que assolaram um certo autor de telenovelas do Brasil.

À medida em que eu ia lendo "Anacleto" não parava de pensar: é "Roque Santeiro". Um bando de carolas vai até a casa de Lucas Lucatero, um dos moradores poderosos do local, para pedir que ele entre na luta pela canonização de Anacleto Morones, já falecido e que segundo relatos, continua a fazer milagres depois de morto. A cidade entra nessa campanha. Curiosamente, fazia santos de barro: é um santeiro. Na verdade, Anacleto era um vigarista que passou metade da mulherada da cidade na cara. Aqui a história toma outro caminho.

Bem sei que "Roque Santeiro" é a versão televisiva de uma peça de Dias Gomes, "O berço do herói". Tenho-a aqui. Já li. A peça fala de um cabo do Exército dado como morto na Itália durante a Segunda Guerra e que, dez anos depois, volta, quando a cidade inteira já vive às expensas de sua condição de herói. Será que, ao tentar adaptar a peça para a TV, Dias deu uma folheada em "O planalto em chamas"? E ali, na sua frente, viu como trocar a profissão de seu protagonista? Ainda mais numa época em que a leitura de autores latino-americanos (ainda tem hífen essa porra?) eram quase uma obrigação da intelectualidade de raiz... Digo isto porque as histórias são muito iguais, muito embora o conto possua um ar seco, cruel, diferente de uma telenovela. É claro que santeiros pululavam (ainda pululam?) pela América Latina a dentro e que não devem ser poucas as localidades que os transformam em santos, mas que fica no ar a tal da coincidência, fica...

Bom, é ler e conferir.

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A minha versão é esta.