sexta-feira, 15 de abril de 2011

GALILEU

Eu não sou católico. Eu tenho sérias dificuldades em aceitar o dogma da trindade. Não acho, por exemplo, que Jesus é Deus. Até porque, segundo li, ele nunca afirmou isso. Pelo contrário, na cruz, na solidão de sua morte próxima, ele perguntava por que o Senhor o havia abandonado. Ora, se ele fosse Deus, por que perguntaria isso? Por que pediria, por exemplo, que Deus afastasse dele o cálice lá no Jardim das Oliveiras?

De qualquer forma, são questões minhas e nenhum católico tem nada a ver com isso. Neste blog não se verá nenhum menosprezo à crença cristã. Sou casado com uma católica, não frequento missas, meu filho está na catequese e não há problema nenhum aqui em casa por causa do rabi que foi crucificado em Jerusalém. Se meu filho se tornar um ateu, que seja. É uma escolha pessoal. Assim como a crença em Jesus. Esse papo de que religiãio é uma “muleta psicológica” é conversinha de grêmio estudantil de segundo grau, assim como o socialismo enquanto forma de redenção dos povos.

Mas por que digo isso? Porque mesmo não sendo católico, eu gosto de ler sobre o assunto. Respeito e admiro a Igreja – mesmo sabendo de seus defeitos – que ajudou SIM a construir a civilização ocidental. Que criou universidades – tal como as conhecemos hoje –; que antes do Iluminismo, 200 anos antes pra ser quase preciso, através dos jesuítas, já defendia a liberdade individual; que não temia a Ciência, posto que os cientistas eram padres, monges etc. E porque o único argumento – repetirei – O ÚNICO argumento contra a Igreja, no campo científico, é a condenação de Galilei diante da Inquisição. Giordano Bruno não conta: foi condenado por bruxaria, o que eu não defendo, pelo amor dos meus filhinhos. Mas ele não fez ciência pra ser condenado. E naquela época, o povo era mais “zeloso” em certas questões que a Igreja.

E Galilei? Rodou por quê? Em primeiro lugar, não rodou. Era afilhado de papa e não seria queimado jamais. Sua prisão domicilar acabou sendo revogada. E, atenção, não foi condenado por fazer ciência, caralhos! Foi condenado por fazer teologia – queria mudar as Escrituras por causa de suas “descobertas”. O mais, encontre aqui, neste texto de Olavo de Carvalho:

O confronto com a Inquisição não foi uma disputa entre “ciência e fé”, nem muito menos entre “ciência e superstição”, mas entre a pseudo-ciência presunçosa de Galileu e a ciência superior de São Roberto Belarmino, que desmantelou com argumentos irrefutáveis a presunção galilaica de que o Sol fosse o centro do universo (e não só de um sistema planetário em particular).

A famosa abjuração, ante a qual gerações de vigaristas intelectuais derramaram oceanos de lágrimas de crocodilo, foi apenas uma declaração pro forma feita ante o tribunal, após a qual Galileu, sob a proteção do Papa, pôde continuar a ensinar suas mesmas doutrinas de antes sem jamais voltar a ser incomodado.

Por fim, a única penalidade que a Inquisição lhe impôs foi de uma benevolência quase obscena, que hoje soaria como favorecimento ilícito: ele foi condenado a rezar uma vez por semana, durante três anos, os sete salmos penitenciais, podendo fazê-lo em privado, isto é, sem nenhum controle da autoridade. A coisa inteira levava quinze minutos no máximo, e ele ainda não precisava submeter-se à penitência pessoalmente, podendo solicitar que suas duas filhas, ambas freiras, a fizessem em seu lugar.

Nisso consistiu o “martírio” do grande homem.