sábado, 4 de abril de 2009

FERDYDURKE, de Witold Gombrowicz

image Pra começo de conversa, Ferdydurke quer dizer... nada. Não é nome de cidade, não é nome de gente, não é nome de bicho. É nada. É um romance louco onde o protagonista não é um homem ou uma mulher, mas a imaturidade.

Józio, o personagem que serve de fio condutor da história, à moda de um Gregor Samsa, se vê, do nada, transformado num garoto de dezesseis anos quando já atingiu os trinta. É levado de volta aos bancos escolares e lá começa a sua aventura entre meninos que se julgam adultos só porque falam palavrões. Seu reencontro com a tia aristocrata, o desejo de seu amigo Mietus que descobre o seu amor pelos camponeses e quer ter um de estimação, são partes suculentas de um livro que nos traz uma fábula, claro, com fortes toques irônicos em relação à modernidade, ao socialismo e às estruturas senhoriais de sua Polônia, de onde precisou fugir até chegar à Argentina, onde viveu grande parte da sua vida em extrema necessidade.

Witold Gombrowicz (em português pronuncia-se Zbguiew Brzezinsky) é um inovador. E também é uma pegadinha literária, porque cabe naqueles casos em que parece ser muito fácil escrever. Seu texto flui, sem firulas, com muitas armadilhas para os tradutores - esta versão é direta do polonês -, com muito humor e dinamismo.

Ao lê-lo, não há como deixar de lembrar nosso grande Campos de Carvalho pelos absurdos que se espalham em seus textos. Pessoalmente, acho Campos de Carvalho melhor, sobretudo o de "A lua vem da ásia" e "O púcaro búlgaro" (de "Vaca da nariz sutil" gostei menos), que parecem ter como função, a exemplo do próprio "Ferdydurke", de dessacralizar um pouco a literatura, de tirá-la de um pedestal inalcançável e, mesmo com isso, fazendo um trabalho magistral.

Ler ainda é a melhor das aventuras.