Já li por aí que você pode medir o nível de civilização de um país pelo número de instrumentos de percussão usados para fazer suas músicas. Vou além: podemos medir o grau de desenvolvimento de um país pelo número de carimbos em documentos ou pelo número de vezes em que você precisa pisar num cartório.
Faço uma profecia: o mundo avança a passos largos para a infirmatização e digitalização de tudo. Mas o Brasil será o último país do mundo a abolir os cartórios.
Enquanto na Austrália você precisa apenas preencher um formulário na internet para formalizar a sua empresa, aqui vivemos de cartório em cartório, de taxas em taxas, de reconhecimentos de firmas a reconhecimentos de firma porque, creio eu, parte-se do pressuposto que somos todos bons filhos da puta, então é necessário que você precise provar... Bem, que você precise provar que é você mesmo.
O Detran (vejam só: me refiro a um órgão público) está penando para derrubar uma determinação que obriga o registro em cartório de todo carro cuja compra é financiada. O esforço do cartório é... nenhum. E só para te obrigar a registrar esta transação ele vai abocanhar 300 pilas. E você ainda paga impostos, hein!
Meu amigo André Pianni uma vez me deixou triste e pensativo. Ele passou uma temporada em Austin, no Texas. Lá, você não precisa nem registrar compra de imóveis. É como se fosse um aparelho de som, uma TV de plasma ou um hidrômetro. Perguntei a mim mesmo: quando é que vai ser assim aqui no Brasil? A resposta eu não sei. Só sei que certamente não estarei vivo para ver.