quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O QUE OS HISTORIADORES FALAM SOBRE A INQUISIÇÃO - IV

Um pouco de bruxaria e de justiça canônica neste post.


“O certo é que muito ao contrário do que se crê, as perseguições às bruxas não foram por iniciativa da Igreja, mas manifestação de uma crença popular, cuja bem documentada existência remonta à longínqua Antiguidade. (…) Há novos testemunhos sobre perseguição de bruxas sem o consentimento da Igreja. (…) Não encontramos nada sobre bruxaria nos primeiros manuais do Santo Ofício.”

Gustav Henningsen


“1- Enquanto a Inquisição se mostrava dura com os judeus, maometanos e protestantes, se mostrou muito branda em relação ao castigo às bruxas e outras formas de delitos mágicos.

2 - A Inquisição poderia ter causado um holocausto de bruxas nos países do Mediterrâneo - mas a História nos mostra algo muito diferente - a Inquisição foi aqui a salvação de milhares de pessoas acusadas de um crime impossível.

3 - ... católicos, luteranos, calvinistas, anglicanos, ninguém se culpa de haver lançado lenha ao fogo. Em honra da verdade todos os cristãos deveriam fazer causa comum com o Papa João Paulo em seu propósito de reparação".

Idem.


"Ao lado de juizes violentos ou cruéis, havia grande número que, tendo incessantemente Deus ante os olhos, como diziam certas sentenças, eram plenamente conscientes da gravidade e das pesadas responsabilidades do seu ministério. Sacerdotes e monges trabalhavam para a glória de Deus e a defesa da verdade, movidos por razões de ordem sobrenatural; detestaram a heresia, mas eram cheios de misericórdia com os indigitados. Condenar um inocente parecia-lhes uma monstruosidade, e, como lhes recomendavam os Papas, só pronunciavam sentença condenatória quando a culpabilidade não lhes deixava nenhuma dúvida. Reconduzir à ortodoxia um herege era, para eles, uma grande alegria e, em vez de o entregar ao braço secular e à morte, que tirava toda esperança de conversão, eles preferiam recorrer às penitências canônicas e a penalidades temporárias, possibilitando ao culpado o emendar-se. Tais sentimentos são muitas vezes expressos nos manuais dos inquisidores" e nos possibilitam apreciar a boa fé, a consciência a retidão e mesmo a caridade de muitos dentre eles."

Jean Guiraud


“A Inquisição introduziu a justiça regular, evitando que a justiça leiga ou mesmo a revolta popular infligissem os piores castigos aos suspeitos de heresia. Muitas vezes foi a autoridade eclesiástica quem interveio para subtrair à fúria da multidão os que esta considerava heréticos, embora nem sempre conseguisse evitar que condenados à prisão fossem retirados e conduzidos à fogueira pela população furiosa e amotinada, que se queixava da 'fraqueza e excessiva brandura' do bispo. Todos esses aspectos ajudam-nos a não julgar com tanta severidade instituições de outras épocas e mentalidades..."

Jorge P. Cintra 


“É importante dizer que se as provas do réu eram eficazes, o processo podia voltar-se contra o denunciante; o caluniador podia ser condenadoà mesma pena que o acusado receberia. Em qualquer caso de culpa, sempre a confissão desta faz a pena ser diminuída pelo tribunal e cai-se no caso da penitência canónica. Em caso contrário os inquisidores obrigam o réu a rejeitar a sua fé herética. Como forma de pressão é apresentado ao réu que se nega a abandonar a heresia, a pena que poderá sofrer, prisão perpétua ou pena de morte. O réu ficava então meditando um longo tempo em uma cela, alimentando-se só de pão e água. Se todos esses meios falhassem, recorria-se infelizmente, à tortura. No entanto, o historiador americano C. H. Lea declara que "foram raras as alusões à tortura".

Daniel Rops