sexta-feira, 4 de abril de 2008

BRASILEIRO NÃO SABE VOTAR?

Antigamente, brasileiro não sabia votar. Não, não sou eu quem estou afirmando isso. Quem afirmava eram os petistas quando o Lula não ganhava.

Quando Sarney lançou o Plano Cruzado, derrubou temporariamente a inflação. Claro: era macumba pra turista. Mas a maioria da população enxergava aquilo como o fim de uma tortura. O fim da instabilidade dos preços. O fim daquela história de não se saber o preço que se pagaria pelo pãozinho na padaria do dia seguinte. Houve até um ensaio de distribuição de renda. E quem disse isso, em sala de aula para a turma toda ouvir, foi o professor Francisco Antônio Doria, o pai do Pedro Doria, lá na UFRJ nos anos 90. O país tinha superavit atrás de superavit na balança comercial. O saldo era gigantesco. E o que aconteceu? Nas eleições para governador no ano seguinte, o PMDB, partido do presidente da República, ganhou em 26 dos 27 estados. A chiadeira foi clara: estelionato eleitoral. O Plano Cruzado descambou para o que vai acontecer na Argentina daqui a algum tempo: o governo tentando laçar boi no pasto e coisas faltando nas prateleiras. O fato era que o Cruzado era um plano "mágico", com direito à moratória e outras práticas da economia xamânica, típica da idiotia latino-americana. A economia foi pras cucuias, mas tão pras cucuias que ninguém deve se lembrar que Maílson da Nóbrega foi Ministro da Fazenda. Só isso pode justificar que o sujeito continua por aí a desfiar suas asneiras depois de fazer com que a inflação brasileira chegasse a 83%. Ao mês!

Mas o povo votou com a barriga. Votou porque a inflação que levou Maria da Conceição Tavares, economista do PT, às lágrimas tinha - a princípio - ido para o buraco. Entretanto, ela voltou. A ponto do TV Pirata, programa de humor da Globo naquela época, botar o Guilherme Karam de Maílson e dizer, a cada bloco do programa, que a moeda mudaria de nome.

- Um milhão de cruzados vale uma narjara turetta!

E depois:

- Um milhão de narjaras turettas valem agora um saco de pitomba!

O saco de pitomba virou a moeda brasileira. E Sarney cedeu o seu lugar à Fernando Collor.

O caçador de marajás derrotou Lula. O povo votou no que lhe parecia mais capaz. Embora tivesse Lula se dado super bem no primeiro debate, foi muito mal no segundo. E aqui não falo da tão falada edição do programa: Lula foi mal e pronto. Para piorar, o empresário Abílio Diniz teve o seu cativeiro descoberto no dia seguinte e lá foram encontrados diversos panfletos do PT - o que não era de se estranhar: o seqüestro foi planejado pelo MIR chileno. O MIR faz parte do Foro de São Paulo que foi fundado um ano depois. Mas essa é outra história.

O povo votou no candidato com mais personalidade. E este era Collor, fazer o quê?

Cai Collor, entra Itamar e faz o Plano Real. Em seguida, vem FHC e consolida o plano - isso tem que ser dito. O Plano Real, claro, foi chamado de eleitoreiro. Aloisio Mercadante dizia que não ia dar certo. Mas começou a dar. Os preços aumentaram, é fato. Mas se estabilizaram. E isso significa comida na mesa. O eleitor diz:

- Tá bom assim!

Com o advento da reeleição (ALÔ!!! SEMPRE FUI CONTRA E CONTINUO SENDO!!!), FHC ganhou de novo. Vai que entra um maluco e bota tudo a perder!

FH deu duas coças em Lula no primeiro turno. É claro que teve gente reclamando: "O povo não sabe votar!" É claro que disseram: "A culpa é da mídia!" Mas o que o povo quer é estabilidade. É a sensação de que vai poder botar comida na mesa. E aí entra Lula.

Quede os que disseram que o povo não sabia votar? Não! Aprendeu rapidinho escolhendo Lula presidente! Eu entre eles, claro, pois votei nele. Subitamente, o povo era responsável, ilustrado, consciente! Depois de tanto votar, aprendeu! E Lula teve lá o seu mérito: manteve a mesma política econômica na qual tanto batia na época em que era bravateiro (palavras dele mesmo, não tenho nada com isso). O que valeu a Lula a sua primeira eleição foi, sobretudo, a Carta ao Povo Brasileiro, onde abjurava a "ruptura necessária" com o sistema financeiro internacional proposta pelo falecido Celso Daniel, que seria o coordenador da campanha e possível ministro da Fazenda...

Pronto! Povo que sabe votar é outra coisa! Até que veio o referendo do desarmamento!

De repente, segundo Emir Sader, o povo desaprendeu a votar! Votou pelo NÃO. Os brasileiros não quiseram proibir o comércio de armas de fogo no país. Mas aí é que está! Esta é uma das grandes provas de que o povo aprendeu a votar!

Seis meses antes do referendo, o SIM tinha 81% das intenções de voto. À medida em que começou a campanha na TV, com artistas e tudo mais defendendo o SIM, as coisas foram se esclarecendo. E se esclareceram a tal ponto que a virada foi mais espetacular do que a do Vasco em cima do Palmeiras na final do Mercosul! Os 19% passaram a 64%!!!

Lula é reeleito. A economia vem em boa maré e a confusão das hipotecas americanas ainda não chegou aqui. A estabilidade da moeda, a inflação baixa garantiram mais quatro anos a Lula (que espero que sejam os últimos, lógico). Graças, eu repito, à distância dos petistas-força do setor que determina a economia. Ou vocês acham que no primeiro arranca-rabo da economia internacional, com inflação corroendo os salários, moeda desvalorizando e equipe econômica batendo cabeça, com os pitbulls do PT dizendo: "Vamos romper com o sistema capitalista!" o povo vai deixar assim, barato? Tira o Lula de lá a ponta-pés! Ele ou qualquer outro! A popularidade vai pro vinagre! E não vai ter movimento sindical e social cheio de pelego que vive à tripa forra com o meu, o seu, o nosso dinheiro, que resista!

O povão, o povão mesmo é pragmático.