terça-feira, 5 de janeiro de 2010

ILUMINA-SE A IGREJA POR DENTRO DA CHUVA DESTE DIA

Ilumina-se a igreja por dentro da chuva deste dia, 
E cada vela que se acende é mais chuva a bater na vidraça...

Alegra-me ouvir a chuva porque ela é o templo estar aceso, 

E as vidraças da igreja vistas de fora são o som da chuva ouvido por dentro ...

O esplendor do altar-mor é o eu não poder quase ver os montes 

Através da chuva que é ouro tão solene na toalha do altar...

Soa o canto do coro, latino e vento a sacudir-me a vidraça 

E sente-se chiar a água no fato de haver coro...
 

A missa é um automóvel que passa 
Através dos fiéis que se ajoelham em hoje ser um dia triste ... 
Súbito vento sacode em esplendor maior 
A festa da catedral e o ruído da chuva absorve tudo 
Até só se ouvir a voz do padre água perder-se ao longe 

Com o som de rodas de automóvel...

E apagam-se as luzes da igreja 

Na chuva que cessa... 


Fernando Pessoa