Inventada pelos persas, a crucificação foi adotada pelos romanos para punir rebeldes, escravos e desertores. Um sujeito com cidadania romana não era crucificado. O caso de Pedro e Paulo é emblemático: envolvidos na mesma sentença, Paulo (cidadão romano) foi decapitado e Pedro, crucificado.
O livro de Zugibe é uma tentativa de se reconstituir - baseado no Sudário de Turim - como o homem que está presente ali foi crucificado. Pode-se considerar o livro como uma espécie de CSI Jerusalém. Zugibe é um dos maiores legistas dos Estados Unidos e baseado na imagem impressa, ele foi buscar as respostas.
Antes, porém, algumas considerações:
1. Até hoje não se sabe se o Sudário é uma farsa ou realmente envolveu uma pessoa que morreu crucificada. Alguns defendem a autenticidade do manto, ou seja, ele teria mesmo envolvido Jesus.
2. O livro estuda as diversas teorias sobre como foi impressa a imagem no Sudário - na parte que eu acho a mais enfadonha. Não se chegou a nenhuma conclusão satisfatória.
3. O Sudário traz, sim, informações precisas sobre a crucificação. É nela que vemos, pela primeira vez, que a coroa de espinhos cobria toda a cabeça do sujeito nela representado. E também marcas de chibatadas dadas com um flagrum utilizado pelos romanos, como algumas pesquisas arqueológicas já mostraram.
4. A imagem mostra o sujeito em rigor mortis.
Zugibe descarta a hipótese de que o crucificado morria asfixiado na cruz. Pelos testes que fez, inclusive "pendurando" voluntários, a respiração não ficava comprometida. Se tivesse que apontar num atestado de óbito a causa da morte de Jesus, Zugibe escreveria:
"parada cardíaca e respiratória, em razão de choque traumático e hipovolêmico, resultante de crucificação."
O livro traz uma imensa pesquisa revelando os métodos de crucificação utilizados pelos romanos:
1. Os pregos utilizados (o homem do Sudário não foi pendurado pelos pulsos e sim abaixo da protuberância que existe sob o indicador) possuíam cerca de 12 centímetros e poderiam ser encravados nos pulsos e até no antebraço;
2. Os romanos possuíam soldados especialistas em crucificações que cumpriam a tarefa com facilidade e presteza - creio eu também que com certa alegria sádica. O grupo era composto por cinco soldados (o exactor mortis, um centurião responsável por quatro soldados, chamados de quaternio. Era o exactor mortis o encarregado de verificar se o infeliz tinha morrido e comunicar o fato ao procurador, que preenchia a declaração de óbito).
3. As cruzes não eram altas. Tinham, em média, dois metros de altura. Algumas eram bem baixas, pra facilitar o trabalho dos animais que se banqueteariam com o cadáver. Pelas indicações dos Evangelhos, a cruz de Jesus deveriam ser baixa (dada a facilidade com a qual o soldado lhe deu o fel embebido na esponja e a perfuração do lado direito - tal como a vemos no Sudário).
4. As pernas do crucarius (condenado) eram quebradas não para que ele morresse asfixiado, mas devido às hemorragias que a porretada provoca no infeliz. Era considerado um golpe de misericórdia. Em alguns casos, era usada para impedir que o sujeito conseguisse fugir caso descesse da cruz com vida - assim poderia ser devorado pelos animais.
São dados e mais dados, históricos e técnicos sobre essa história de horror. Aqui vai apenas uma pálida idéia do conteúdo do livro de Zugibe. Tem também uma parte em que ele desmonta uma a uma todas as teorias fantasiosas de que Jesus não teria morrido na cruz.
É bom dizer que Zugibe é católico. E nas suas análises ele também usa, além de textos de autores romanos, as passagens dos Evangelhos que tratam da crucificação e do que aconteceu durante o período em que Jesus esteve pendurado.
Noto eu que não há detalhes do processo de encravamento nos textos dos evangelistas: os autores escreviam para pessoas que na época estavam cansadas de ver como a coisa acontecia.