O Zenit de São Petersburgo da Rússia conquistou o título inédito de campeão da Copa da UEFA. Fora a torcida do clube, que deve caber numa Kombi, não há muito o que se comemorar. A torcida do Zenit não permite negros na equipe. Dick Advocaat, treinador holandês da equipe, lamenta o fato. Gostaria de ter negros no time, mas os caras não querem. Puro caô do Advocaat. Se estivesse, de fato, incomodado, mandaria os torcedores à merda ou pediria demissão. Mas deve estar bom assim, sei lá... É Advocaat jogando pra galera.
Aí, dou um pulo no site do Aydano André Motta, do Globo, o cara que disse uma vez que o Vasco é um mero satélite do Flamengo. Não é, não, Aydano. E graças a Deus. O porquê você vai saber agora.
Aydano publica um texto de Juca Kfouri contra o racismo no esporte por ocasião do dia 13 de maio. Até aí, beleza. Mas a implicância de Juca com o Vasco acabou fazendo com que resvalasse numa vigarice intelectual: ele não menciona, nem por alto, o nome do primeiro clube que lutou ferozmente contra o preconceito racial no futebol brasileiro. Talvez por vergonha do time dele não ter enfrentado a questão e ser tão racista como o Flamengo de então. E aqui, Aydano, o Vasco não é um satélite do Flamengo. O Vasco é o Sol. Um Sol com nome e sobrenome.
O primeiro time a vencer um campeonato com um time de negros e mulatos. Foi desfiliado por causa disso: a desculpa era a de que o Vasco não tinha estádio. Correndo a sacolinha entre os sócios e simpatizantes, sem NENHUM TOSTÃO VINDO DE COFRES PÚBLICOS, o Vasco construiu simplesmente o MAIOR ESTÁDIO DA AMÉRICA DO SUL na época. Ainda na base do preconceito, os clubes ricos inventaram a súmula. Por quê? Ora, a maioria dos jogadores do Vasco era analfabeta. Analfabetos não poderiam jogar. E o que o Vasco fez? Contratou professores para alfabetizar os craques da Colina. E o que mais? Se o pessoal do Zenit soubesse como é bom não ser racista, deveria se espelhar no Vasco. Sobretudo numa época iluminada do clube. Basta dizer que o homem que presidiu a sessão da ONU que criou o Estado de Israel era Osvaldo Aranha, um vascaíno. Não por acaso Osvaldo era irmão de Ciro, o presidente do Vasco que abriu o caminho para a formação do Expresso da Vitória, um dos maiores times da história do futebol mundial. E quem fala isso não sou eu: é Helio Fernandes, flamenguista fanático. Quem fala isso é Fernando Calazans. E acredito no testemunho do meu avô, ex-árbitro da Federação do Rio. Ele viu de perto, ele viu no campo. Basta dizer que o Expresso conquistou o primeiro título oficial interclubes do nosso futebol: o Campeonato Sul-Americano em 1948.
Juca, por que esconder isso? Por picuinha? No site Super Vasco, encontramos um libelo anti-racista, um texto de inestimável valor histórico não só para os cruzmaltinos, mas para todos aqueles que abominam qualquer tipo de racismo:
Ofício nr. 261
Exmo. Sr. Dr. Arnaldo Guinle M.D.
Presidente da Associação Metropolitana de Esportes Atléticos
As resoluções divulgadas hoje pela imprensa, tomadas em reunião de ontem pelos altos poderes da Associação a que V.Exa tão dignamente preside, colocam o Club de Regatas Vasco da Gama numa tal situação de inferioridade, que absolutamente não pode ser justificada nem pela deficiência do nosso campo, nem pela simplicidade da nossa sede, nem pela condição modesta de grande número dos nossos associados.
Os privilégios concedidos aos cinco clubes fundadores da AMEA e a forma por que será exercido o direito de discussão e voto, e feitas as futuras classificações, obrigam-nos a lavrar o nosso protesto contra as citadas resoluções.
Quanto à condição de eliminarmos doze (12) dos nossos jogadores das nossas equipes, resolve por unanimidade a diretoria do Club de Regatas Vasco da Gama não a dever aceitar, por não se conformar com o processo por que foi feita a investigação das posições sociais desses nossos consócios, investigações levadas a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.
Estamos certos que V.Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um ato pouco digno da nossa parte sacrificar ao desejo de filiar-se à AMEA alguns dos que lutaram para que tivéssemos entre outras vitórias a do campeonato de futebol da cidade do Rio de Janeiro de 1923.
São esses doze jogadores jovens, quase todos brasileiros, no começo de sua carreira e o ato público que os pode macular nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que eles, com tanta galhardia, cobriram de glórias.
Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V.Exa. que desistimos de fazer parte da AMEA.
Queira V.Exa. aceitar os protestos de consideração e estima de quem tem a honra de se subscrever, de V.Exa. At. Vnr. Obrigado
(a) Dr. José Augusto Prestes
Presidente
Aí, dou um pulo no site do Aydano André Motta, do Globo, o cara que disse uma vez que o Vasco é um mero satélite do Flamengo. Não é, não, Aydano. E graças a Deus. O porquê você vai saber agora.
Aydano publica um texto de Juca Kfouri contra o racismo no esporte por ocasião do dia 13 de maio. Até aí, beleza. Mas a implicância de Juca com o Vasco acabou fazendo com que resvalasse numa vigarice intelectual: ele não menciona, nem por alto, o nome do primeiro clube que lutou ferozmente contra o preconceito racial no futebol brasileiro. Talvez por vergonha do time dele não ter enfrentado a questão e ser tão racista como o Flamengo de então. E aqui, Aydano, o Vasco não é um satélite do Flamengo. O Vasco é o Sol. Um Sol com nome e sobrenome.
O primeiro time a vencer um campeonato com um time de negros e mulatos. Foi desfiliado por causa disso: a desculpa era a de que o Vasco não tinha estádio. Correndo a sacolinha entre os sócios e simpatizantes, sem NENHUM TOSTÃO VINDO DE COFRES PÚBLICOS, o Vasco construiu simplesmente o MAIOR ESTÁDIO DA AMÉRICA DO SUL na época. Ainda na base do preconceito, os clubes ricos inventaram a súmula. Por quê? Ora, a maioria dos jogadores do Vasco era analfabeta. Analfabetos não poderiam jogar. E o que o Vasco fez? Contratou professores para alfabetizar os craques da Colina. E o que mais? Se o pessoal do Zenit soubesse como é bom não ser racista, deveria se espelhar no Vasco. Sobretudo numa época iluminada do clube. Basta dizer que o homem que presidiu a sessão da ONU que criou o Estado de Israel era Osvaldo Aranha, um vascaíno. Não por acaso Osvaldo era irmão de Ciro, o presidente do Vasco que abriu o caminho para a formação do Expresso da Vitória, um dos maiores times da história do futebol mundial. E quem fala isso não sou eu: é Helio Fernandes, flamenguista fanático. Quem fala isso é Fernando Calazans. E acredito no testemunho do meu avô, ex-árbitro da Federação do Rio. Ele viu de perto, ele viu no campo. Basta dizer que o Expresso conquistou o primeiro título oficial interclubes do nosso futebol: o Campeonato Sul-Americano em 1948.
Juca, por que esconder isso? Por picuinha? No site Super Vasco, encontramos um libelo anti-racista, um texto de inestimável valor histórico não só para os cruzmaltinos, mas para todos aqueles que abominam qualquer tipo de racismo:
Leia a carta escrita há 84 anos pelo presidente vascaíno recusando-se a banir do clube seus atletas negros e operários, escrevendo, assim, a mais bela página do esporte brasileiro na luta contra o racismo defendido incessantemente por Flamengo, Fluminense, Botafogo e América que tinha verdadeira aversão à participação de negros e pobres na vida social do país.Rio de Janeiro, 7 de Abril de 1924.
Ofício nr. 261
Exmo. Sr. Dr. Arnaldo Guinle M.D.
Presidente da Associação Metropolitana de Esportes Atléticos
As resoluções divulgadas hoje pela imprensa, tomadas em reunião de ontem pelos altos poderes da Associação a que V.Exa tão dignamente preside, colocam o Club de Regatas Vasco da Gama numa tal situação de inferioridade, que absolutamente não pode ser justificada nem pela deficiência do nosso campo, nem pela simplicidade da nossa sede, nem pela condição modesta de grande número dos nossos associados.
Os privilégios concedidos aos cinco clubes fundadores da AMEA e a forma por que será exercido o direito de discussão e voto, e feitas as futuras classificações, obrigam-nos a lavrar o nosso protesto contra as citadas resoluções.
Quanto à condição de eliminarmos doze (12) dos nossos jogadores das nossas equipes, resolve por unanimidade a diretoria do Club de Regatas Vasco da Gama não a dever aceitar, por não se conformar com o processo por que foi feita a investigação das posições sociais desses nossos consócios, investigações levadas a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.
Estamos certos que V.Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um ato pouco digno da nossa parte sacrificar ao desejo de filiar-se à AMEA alguns dos que lutaram para que tivéssemos entre outras vitórias a do campeonato de futebol da cidade do Rio de Janeiro de 1923.
São esses doze jogadores jovens, quase todos brasileiros, no começo de sua carreira e o ato público que os pode macular nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que eles, com tanta galhardia, cobriram de glórias.
Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V.Exa. que desistimos de fazer parte da AMEA.
Queira V.Exa. aceitar os protestos de consideração e estima de quem tem a honra de se subscrever, de V.Exa. At. Vnr. Obrigado
(a) Dr. José Augusto Prestes
Presidente
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Quem teria o culhão de fazer o mesmo?
Nenhum fez: só o Gigante da Colina.
Por isso é que eu digo: História o meu time escreve com H maiúsculo!