quinta-feira, 24 de julho de 2008

VERISSIMO MELINDRADO

O texto que desagradou ao sr. Cesário foi motivado por uma manifestação, depois atenuada, do Conselho Superior do Ministério Público do Rio Grande do Sul, que equiparava o movimento dos sem terra à guerrilha e pedia sua dissolução. Diante da flagrante iniqüidade da situação fundiária brasileira, mostravam, como na frase de Goethe, que preferiam a ordem à justiça. A criminalização do movimento dos sem terra seria a outra face da descriminalização, pela absolvição e o esquecimento, de atos como o massacre de Carajás. Acho que o sr. Cesário e seus pares concordam comigo que a escolha não precisaria ser feita, que ordem ideal seria a que advém da justiça, ou da ausência da injustiça. Mas isso, claro, pressupõe outro Brasil. Talvez outra Humanidade.
O trecho aí em cima é da coluna de hoje de Verissimo, no Globo. É uma resposta ao presidente da Sociedade Rural Brasileira, Cesário Ramalho da Silva. Realmente, Verissimo deve ter ficado melindrado. Este texto mexeu com ele. Ao que me consta, eu nunca o vi rebatendo texto de ninguém. Ele sempre disfarçou olimpicamente as bordoadas que levou. Mas a paciência acabou.

Definitivamente, aquele encontro de petistas se fingindo de intelectuais com Lula mudou o seu ser. Acho que agora ele resolveu entrar na briga para defender o governo. Nada contra. Só que agora é assumido.

O trecho selecionado é uma defesa do MST. Claro: o movimento vai viver eternamente do Massacre de Eldorado dos Carajás. Pode fazer a merda que fizer que sempre vai ter um para levantar a mão e dizer:

- Carajás! Carajás!

Naquele momento, o MST ganhou a simpatia de muitos. A minha, por exemplo. Mas acabou o milho e acabou a pipoca. O movimento botou suas manguinhas de fora e mostrou o que é anos depois: uma tropa de assalto. No texto, Verissimo ainda diz:
Sobre os assentamentos que estão funcionando em paz, e produzindo, e contribuindo para o efeito multiplicador que o sr. Cesário, muito justamente, exalta, só se tem silêncio.
Bom, espero que na coluna de domingo Verissimo dê o nome de UM, UM ASSENTAMENTO que produza alguma coisa diferente de IDEOLOGIA, que produza arroz ou feijão. Já tá de bom tamanho.

Mas a melhor resposta a Verissimo, quem diria, eu encontrei em Carlos Chagas, na Tribuna da Imprensa. E de Chagas pode-se dizer qualquer coisa, menos de ser um direitista, um ruralista, um conservador malvado.

Diz Chagas:

Em sete estados, foram invadidas e ocupadas pelo MST as instalações urbanas do Incra. Tudo no mesmo dia, na mesma hora, com a utilização de dezenas de ônibus para facilitar o transporte dos invasores, sem falar na infra-estrutura de lanches e refeições preparados em cozinhas de campanha, colchonetes, cobertores, alto-falantes e, como folclore, até foices e facões.

Alguém duvida de uma coordenação meticulosa por parte da direção dos sem-terra? Espontâneas essas coisas não são. Integram um plano estratégico que visa colocar o poder público federal na defensiva e os governos estaduais às voltas com a defesa da ordem e do patrimônio estatal.

Fechamento de rodovias, assalto a postos de pedágio, interrupção do tráfego ferroviário, ocupação de usinas geradoras de energia, depredação de culturas experimentais e de laboratórios de empresas privadas - quanta coisa a mais tem praticado o MST, tão distante da reforma agrária quanto o Ronaldo Fenômeno do time do Milan?

(...)

Será que as Farc estão dando filhotes?"

* * *

A propósito: duas matérias pro Verissimo ficar mais por dentro do MST de verdade, o MST força, tão distante do MST-arte, do MST-moleque, do MST-de-várzea que ele ainda insiste em idealizar:

Justiça condena líderes do MST a pagar R$ 5,2 milhões

Zé Rainha no curral eleitoral da Rocinha (quando eu digo que é método, neguinho sacaneia...)