sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

BOM DIA, NOITE

Filme de 2003 que mostra o grupo das Brigadas Vermelhas que sequestraram o então presidente da Itália, o democrata-cristão Aldo Moro. Posteriormente, o tal tribunal “revolucionário” o condenou à morte. O assassinato não aparece no filme, mas o corpo de Aldo foi encontrado com cinco tiros depois de esgotadas todas as negociações – que incluíram um apelo do papa Paulo VI (que por sinal morreria no mesmo ano em que se deu o crime sendo substituído por João Paulo I, cujo pontificado durou meros 33 dias – o resto é história).

É curioso ver como estes grupelhos como Brigadas Vermelhas, o Baader-Meinhof entre outros, tudo meia-dúzia de gato pingado, achava que encarnava mesmo os anseios do povo. Uma das cenas é clara quando o primeiro-ministro da Itália está falando se sendo aplaudido. Os terroristas ficam estarrecidos. Como aplaudindo um membro da burguesia? Não tem ninguém vaiando? Cadê a revolta do povo que viemos libertar?

A história é contada pelo ponto de vista de Chiara, uma bibliotecária que com seu ar inocente parecia despistar todo o aparato de segurança da Itália.

Mas Chiara (Anna Laura Braghetti, seu nome verdadeiro) é mostrada no filme possivelmente romantizada. Ela vibra ao saber do sequestro. Mas começa a se apiedar do refém. Um velho inofensivo cujo único crime era pertencer do partido democrata-cristão. No meio da história, sua personagem serve para deixar uma coisa muito clara no filme à medida em que ele avança: o discurso dos comunistas é apenas a repetição do discurso fascista. E isso com imagens provando que a tática dos dois grupos é simplesmente a mesma:  a eliminação do adversário. Talvez Anna/Chiara não goste muito do filme. Até porque ela era do balacobaco. Depois da morte de Aldo Moro cai na clandestinidade e ainda chega a participar de algumas das ações mais sangrentas das Brigadas, chegando a matar o vice-presidente do Conselho de Magistratura, Vittorio Bachelet. Ou seja, a humanização de Chira é uma licença poética. E que funciona.

É claro que muitos acham incompreensível o governo italiano não ter libertado os presos políticos exigidos pelas Brigadas Vermelhas. As teorias da conspiração pipocam aqui e acolá: pressão da OTAN, inimigos que não queriam que ele voltasse mesmo pra casa e por aí vai. Ou, vá lá, os membros do governo botaram na cabeça que com bandido não se negocia, embora nunca se saiba o preço que se vai pagar. É aí que está a angústia

No mais, é um bom filme.