sábado, 9 de maio de 2009

O COMUNISMO É POSSÍVEL

Ontem, fui à colação de grau de minha afilhada. Formou-se em Serviço Social pela UFF (Universidade Federal Fluminense), em Niterói. Uma vitória, não há a menor dúvida, sobretudo se pensarmos nas dificuldades que se apresentaram durante a longa jornada de quatro anos e meio e que não convem contar aqui. Como padrinho, não posso estar menos do que orgulhoso de ver o bebê que levei à pia batismal se tornar uma mulher bonita, inteligente, politizada e ideologicamente bem diferente desse povinho do tipo "maria-vai-com-as-outras".

Colação de grau é aquilo, né? Centenas de "private jokes", que só os formandos entendem; familiares em polvorosa; flashes disparados; o cerimonial desesperado etc. Ah, e teve também o discurso do paraninfo, o professor gatinho de brinquinho na orelha.

O nome da turma que colava grau era "Proletários de todo mundo, uni-vos!". Ai, meu Deus, pensei: o que não deverei ouvir! O convite era "enfeitado" por uma foto de Che Guevara, aquela onde ele mira para o futuro e que rende, hoje em dia, uns trocados para as estamparias. Ah, é bom que se diga: minha afilhada foi voto vencido.

O paraninfo gatinho de brinquinho na orelha começa o seu discurso fazendo os agradecimentos de praxe, e até aí tudo normal. De repente, ele envereda por um caminho que eu pensei estar na Terceira Internacional e que lá sairíamos para derrubar o czar. Já estava pensando até quais seriam, dos presentes, os primeiros que eu iria fuzilar. Sim, o professor Rodrigo Lima e Silva acredita que o comunismo é possível. Ele acredita que haverá um novo porvir. Ele quer uma revolução. Resta saber se ele vai querê-la realizar no papo ou na bala. E desde já adianto que no papo não me convence. Ele acredita que a gripe suína é culpa do capitalismo que a espalhou de propósito nos lugares mais pobres do México. Ele ainda fala em burguesia - e o que me deixou estarrecido: muitos dos seus alunos pensam a mesma coisa. Então, pensei com os meu botões: "Estou assistindo à formatura dos futuros grevistas do país". Entre críticas ao capitalismo eu olhava para o ambiente e pensava: por que a turma não fez sua formatura numa favela de Niterói e escolheu um clube privado, realizou uma festa burguesa, entre disparos de flashes de câmeras fotográficas de última geração e cercada de telas de LCD produzidas pelo capital? Faltou uma roda de capoeira. Faltou um velho desdentado tocando pandeiro para nos cativar. Faltou um moleque fazendo malabares e pedindo trocados  - que com certeza lhes seriam negados para que o garoto se rebele e pense na revolução. Ops! Moleque, não! Pessoa em situação de rua, ensinou-me a minha afilhada, que é como eles chamam mendigos e pivetes numa expressão que lembra a Língua Portuguesa. Perguntei para minha afilhada: "E as prostitutas? Como são chamadas?" E ela, na lata:

- Ah, sei lá... Acho que é pessoa em situação de putaria...

É a esta cambada que está entregue a área de Ciências Humanas do Brasil. Aos crentes do comunismo. Aos citadores de Brecht. Aos admiradores de Che Guevara. Enfim, aos fracassados. Aos que ainda sonham com as Stasi, as Securitat, as KGBs do mundo. Às autocríticas, aos paredões, aos nostálgicos do Holodomor. O curioso é que falavam em demoracia. E eu pensando: porra, ou democracia ou socialismo! Isso nunca se misturou. Talvez tenha faltando tempo ao paraninfo para se aprofundar melhor no que resultou o socialismo "científico" de Marx. O tal que ele defende.

Fiquei preocupado. Não com o professor em si. Mas com os discursos da moçada. Tinha até uma ex-paquita se formando. Não deixa de ser irônico: uma paquita comunista! Cada formando, antes de receber o seu canudo, era apresentado com um breve texto e uma música. Minha afilhada foi buscar o seu ao som de "Sandra Rosa Madalena", bem gaiata. Ninguém escolheu o Hino da Internacional e nem uma musiquinha de Mercedes Sosa, ainda bem. Mas como ia dizendo, fiquei preocupado com os discursos da moçada. É que na maioria das apresentações dos alunos, a palavra mais citada foi "chopada". Então pensei: temos que fechar todos os botecos! É lá que nascem as revoluções!

Vocês não acreditam? Esperem então o governo proibir a cerveja!!!