quarta-feira, 6 de maio de 2009

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BALNIBARBI

OBS: Os grifos em vermelho são meus. Os asteriscos indicam que eu fiz alguns comentários no final do texto.

image Ilha situada no norte do Pacífico entre o Japão e a Califórnia. A capital Lagado é um porto importante de comércio com a ilha de Luggnagg*. De Maldonada, porto do tamanho de Portsmouth, na Inglaterra, tambémn partem navios regularmente para Luggnagg.

A capital tem a metade do tamanho de Londres. Todas as suas casas estão em mau estado e são construídas de uma forma bastante peculiar. Os cidadãos vestem-se com andrajos e correm pelas ruas com os olhos arregalados. No campo, vêem-se lavradores trabalhando com uma variedade de ferramentas, mas é impossível dizer o que fazem realmente. Embora o solo seja fértil, não sinal de capim trigo ou milho.*

A pobreza que reina em Banibarbi é responsável em larga medida, pelos assim chamados projetistas. Poor volta de 1660, um grupo de pessoas navegou para Laputa* e retornou após cinco meses com conhecimentos superficiais de matemática e a cabeça cheia de ideias explosivas que adquiriram naquela região superior. Começaram imediatamente a inventar planos ou "projetos" para mudar tudo. Criou-se uma academia de projetistas de Lagado; hoje, qualquer cidade de alguma importância tem sua própria academia. Os "projetos" foram planejados para permitir que um homem fizesse o trabalho de dez, para produzir edifícios que jamais envelheceriam e para levar à maturidade todas as plantas em qualquer momento do ano. A dificuldade é que nenhum desses projetos deu resultado até agora e, enquanto isso, o país está devastado. Algumas pessoas de qualidade e projeção opõem-se aos projetistas, mas são encaradas com desprezo e má vontade e consideradas nocivas à comunidade.**

Um dos "projetos" típicos consiste em extrair raios de sol de pepinos, guardá-los hermeticamente em frascos e soltá-los quando o tempo ficar inclemente. Em outro projeto, um arquiteto inventou um método novo de construir casas começando pelo teto para terminar nos alicerces, argumentando que assim que abelhas e aranhas fazem suas construções maravilhosas.***

Na Escola de Línguas, criam-se "projetos" para simplificar a linguagem, cortando polissílabos e abandonando verbos e particípios, com o argumento de que todas as coisas imagináveis são simples nomes. Outro projetista está trabalhando na abolição de todas as palavras; afirma-se que assim as pessoas terão melhor saúde, com a redução do desgaste dos pulmões. A lógica subjacente é a seguinte: se as palavras representam coisas, seria mais conveniente que os homens carregassem consigo as coisas que queiram mencionar. Consta que esse "projeto" teria sido posto em prática se as mulheres e os analfabetos não tivessem ameaçado se rebelar, exigindo permissão para continuar falando com suas línguas, à maneira de seus antepassados. Um plano inventado para descobrir conspirações contra o governo compreende o exame da dieta dos suspeitos e a análise de seus excrementos, pois os homens nunca estão mais sérios, compenetrados e decididos do que quando defecam.****

Embora seja em si mesmo um reino, Balnibarbi faz parte do Império de Laputa, ao qual paga tributo.

(Jonathan Swift, Travels Into Several Remote Nations Of The World, In Four Parts. By Lemuel Gulliver, First a Surgeon, and then a Capitain of several Ships, Londres, 1726; Viagens de Gulliver, trad. Octavio Mendes Cajado, Rio de Janeiro e São Paulo, 1998.)

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A Academia de Lagado, capital de Balnibarbi.

Comentários meus:

* Balnibardi, até aqui, me parece muito com a Cracolândia (pessoas andrajosas que correm de olhos arregalados) misturada com um assentamento do MST (campo fértil mas não se vê trigo ou milho. Capim até tem. Afinal de contas, os sem-terra comeriam o quê?)

** Parece até a ideia do Rio de sediar os Jogos Olímpicos. A cidade mal consegue fazer a manutenção de suas ruas, o Estado mal consegue consertar os esgotos que pululam por todos os bairros... E, no entanto, perde-se um tempo enorme com "projetos" de 30 bilhões de dólares - que chegarão fácil, fácil, a 90 bilhões... E se você disser que é contra é visto "com desprezo e má vontade". Sobretudo pelos empreiteiros...

*** Está claro que Jonathan Swift, o criador deste país por qual Gulliver viajou está ironizando os racionalistas e os cientistas, que para tudo têm uma "resposta", uma ideia genial, algo por aí. E ai de quem se opuser a algum gênio: é logo taxado como nocivo à sociedade. Não é muito diferente dos dias de hoje, onde a Ciência é quase vista como um Deus e as religiões são vistas como o Mal a ser eliminado.)

**** O Congresso Nacional que o diga...