O que me espanta no pessoal que batiza os filmes estrangeiros aqui no Brasil é sua imensa criatividade. Ou falta de. "Memórias e Paixões" parece título de novela do Manoel Carlos ou de música da Sandra de Sá, é generalista e, bem, cabe para quase 80% dos filmes. O título original é "Naked lunch", "Almoço nu", baseado no livro do porra-louca William Burroughs e em outros escritos seus.
A história não poderia ser mais insólita: Bill Lee (interpretado pelo Robocop, ops, Peter Weller) é um escritor fracassado que defende uns trocados como dedetizador. Sua mulher se vicia no pó para matar baratas e ele, posteriormente, também. De repente, Bill se vê numa conspiração entre insetos e acaba na Interzona, uma espécie de Zona Franca africana, onde as máquinas de escrever dos escritores se transformam em insetos e são a verdadeira fonte de inspiração de seus textos. Lá, Bill se vicia na Carne Preta, uma droga poderosa. Já não sabemos o que é alucinação e o que não é. Há até um arremedo de debate sobre o poder das drogas na criação artística, coisa muito em voga nos anos 50/60/70. Bom, acho que até hoje...
Burroughs era gay e escrevia sempre chapadão. Em seus livros, sempre há uma grande carga autobiográfica. Uma delas está em "Almoço nu": a morte de sua mulher - sim, ele foi casado com uma mulher - ocasionada por um disparo acidental. Meu amigo Haroldo acrescenta "Almoço nu" é um cata-cata promovido por Alan Ginsberg e outro escritor que esqueci o nome, porque Burroughs escrevia as coisas e espalhava caoticamente por vários lugares. Este cata-cata está presente no filme.
O filme, às vezes, tem muitos diálogos, o que pode torná-lo meio cansativo. Mas é uma overdose - sem trocadilhos - de criatividade. Ah. e os efeitos especiais, apesar de não serem lá grandes coisas, são melhores que os da novela da Record...