EBUDA
No Atlântico Norte, ao largo da costa da Irlanda. Seus habitantes, poucos e selvagens, mantêm um terrível costume secular: a oferenda diária de uma menina a uma orca, a baleia assassina. A origem dessa cerimônia odiosa se perde no tempo. Proteus, guardados dos rebanhos de Netuno, apaixonou-se pela filha do rei da ilha e depois a abandonou, grávida, na praia. Furioso, o rei mandou matá-la imediatamente. Para se vingar, Proteus desencadeou contra Ebuda toda a fauna marinha: orcas e leões-marinhos invadiram a ilha, destruíram os rebanhos, devoraram os homens e assediaram a cidade fortificada. Os habitantes, aterrorizados, consultaram um oráculo para saber como acabar com o flagelo. A resposta foi que deveriam oferecer todos os dias uma linda donzela a Proteus até que ele esquecesse a jovem morta, mas ele continuou inconsolável. E assim todos os dias, amarrada a um rochedo, uma donzela é devorada por uma orca. Até hoje os habitantes de Ebuda percorrem os mares em busca de lindas vítimas para Proteus e suas feras.
(Ludovico Ariosto, Orlando furioso, Ferrara, 1516; Orlando furioso, trad. Pedro Garcez Ghirardi, São Paulo, 2002)