GALIGÊNIA
Ilha de localização incerta, com cerca de doze por oito léguas. Os habitantes, que são agora mais de 100 mil, descendem todos de três exilados franceses que, depois de naufragar numa tempestade, se refugiaram nessa ilha, que acabara de emrgir do mar. Os três fundadores de Galigênia foram um certo Almont, seu filho e sua filha, que cometeram incesto a fim de criar a raça galigeniana.
Para que o resto do mundo não desse mau exemplo aos seus descendentes, Almont e seus filhos não lhes contaram nada sobre o mundo externo. Porém, por conta própria, o povo descobriu a existência de Deus, a quem adora sem igrejas e clero, e aprendeu sobre outros países com viajantes e mercadores.
Os galigenianos estabeleceram uma república governada por um parlamento de sábios, na qual tudo, inclusive os próprios cidadãos, pertence a todos. Cada mulher é esposa de todos os homens e cada homem é marido de todas as mulheres.
Todos os cidadãos, de ambos os sexos, trabalham dois dias por semana, o suficiente para satisfazer às necessidades da comunidade. Eles não sofrem de ambição, cobiça ou desejo ardente de qualquer tipo. Em anos recentes, vários grupos de dissidentes, entediados com sua sociedade impecável, tentaram criar pequenas comoções para perturbar a ordem perfeita da república. Os europeus não são particularmente bem-vindos, pois os galigenianos teme que eles tomem as terras e as civilizem do mesmo modo como os espanhóis civilizaram os índios sul-americanos.
(Charles François Tiphaigne de la Roche, Histoire des Galligènes, ou Mèmoires de Duncan, Amsterdã, 1765.)