Quem acompanha este blog sabe que sou um leitor compulsivo. Adoro literatura, falar de literatura, mas se você me perguntar se tenho um livro de cabeceira ou um autor preferido, respondo: "Claro. Vários." E muitos deles me fizeram exclamar: "Isso é literatura!"
No cinema, é diferente. É óbvio que gosto de muitos filmes, admiro muitos realizadores, mas o único diretor que me fez falar: "Isso é cinema!" foi Ingmar Bergman. Quando assisti "O sétimo selo" foi como se eu estivesse diante da sarça ardente. Era Bergman me dizendo: "Eu sou o que sou e sou o cinema." Está tudo ali, mostrado, dissecado e o que é mais impressionante: sem explicar demais.
Peguemos "Através do espelho": numa ilha, uma família se vê às voltas com uma jovem esquizofrênica. Seu marido é um cirurgião famoso e não o vemos uma única vez numa sala de cirurgia. Seu pai é um autor de best sellers atormentado pelo fato de não ser reconhecido pela crítica e não há uma tomada de uma noite de autógrafos.
Como roteirista, não há como admirar como Bergman construía suas histórias. Como roteirista, sei também que uma ideia pode vir de qualquer lugar. De um provérbio irlandês, por exemplo. Tomemos este: "A virgindade de uma mulher é um terçol no olho do diabo." A partir daí, Bergman constrói uma saborosa comédia, "O olho do diabo", que não nos mata de rir, até porque o que mais impressiona é a sua estrutura narrativa.
Bergman é simples no que de melhor pode ser extraído dessa palavra. em seus filmes, vamos direto ao assunto, sem tergiversações. Bergman é cinema. E, sim, este é um post despurado em sua homenagem.