sábado, 28 de novembro de 2009

FASCISMO DE ESQUERDA - PARTE 2

image Gostei dessa coisa de falar de um livro como se fosse um bate-papo. E continuo fazendo tendo como tema o livro "Fascismo de esquerda", de Jonah Goldberg. Aqui está a segunda parte e com certeza haverá uma terceira, falando da agenda fascista da esquerda atual.

1. Um dos temas mais polêmicos do livro de Jonah Goldberg é quando ele afirma que, durante a Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos tornaram-se um país fascista.

Sim, a primeira aparição do moderno totalitarismo não aconteceu nem na Itália e muito menos na Alemanha. Pelo menos temporariamente, foi nos Estados Unidos.  Mais precisamente no governo do democrata Wodroow Wilson. De que forma se poderia descrever um país que criou o primeiro Ministério da Propaganda? Um país onde milhares de prisioneiros políticos foram assediados, espancados, espionados e jogados na prisão simplesmente por expressarem opiniões privadas? Um país onde o presidente acusava imigrantes estrangeiros de injetarem um "veneno" traiçoeiro na corrente sanguínea americana? Um país onde jornais e revistas eram fechados, onde 1000 mil agentes de propaganda do governo se misturaram com o povo para mobilizá-lo para a sua guerra e onde 25% dos capangas recebeu autoridade legal para intimidar e espancar "desertores" e dissidentes?

2. Por que os progressistas americanos ficaram impressionados com os experimentos de Mussolini e Lênin?

Porque se reconheceram em termos filosóficos, organizacionais e políticos. Eram militaristas, fanaticamente nacionalistas, imperialistas, racistas, profundamente envolvidos na promoção da eugenia darwiniana, adoravam o Estado de bem-estar social de Bismarck e eram estatistas além da medida moderna.

3. Neste sentido, a Revolução Francesa poderia ser chamada de fascista?

Claro. Como alguém pode duvidar disso? Ela foi totalitária, terrorista, nacionalista, conspiratória e populista. Produziu os primeiros ditadores modernos: Robespierre e Napoleão. A paranóia do regime jacobino transformou os revolucionários em pessoas mais selvagens e cruéis do que o rei que haviam destituído.

4. Se a Revolução Francesa era fascista então seus principais herdeiros, os esquerdistas, são frutos dessa árvore envenenada?

Exatamente. E isso coloca corretamente o fascismo no lugar que lhe cabe na história da esquerda. Mas isso causaria uma desordem sísmica na visão de mundo esquerdista. Por isso, adotam a dissonância cognitiva e recorrem a um golpe de mão terminológico.

5. O liberalismo americano [a esquerda] se tornou uma religião política totalitária?

Não necessariamente orwelliana, mas que é totalitária, não resta dúvida.  A esquerda não vê hoje nenhuma área da vida humana que não possua significância política, desde o que você fuma, o que você come e o que você diz. Sexo é política. Comida é política. Esportes, divertimento, tudo tem importância política para os fascistas de esquerda. Eles depositam sua fé em especialistas alçados à categoria de sacerdotes que sabem o que é bom pra nós, que planejam, exortam, molestam e censuram. Tentam usar noções científicas para desacreditar noções tradicionais de religiosidade, mas usam a desculpa do pluralismo e da espiritualidade para defender crenças "não tradicionais". Tal como os fascistas clássicos, os fascistas liberais falam de uma Terceira Via, nada de direita ou esquerda, onde só haverá coisas boas e as escolhas difíceis são escolhas falsas.

6. Essa cruzada New Age pela saúde, contra o cigarro e a obsessão pelos direitos dos animais não é uma coisa nova...

De  forma alguma. Ninguém contesta que esses modismos sejam um produto da esquerda cultural e política. Mas poucos querem ver que nada disso é inédito. Himmler era ativista de carteirinha dos direitos dos animais e um promotor agressivo da "cura natural". Rudolph Hess, adjunto de Hitler, divulgava homeopatia e ervas medicinais. Hitler queria transformar toda a nação alemã em vegetariana para rebater a dieta pouco saudável do capitalismo. Dachau possuía o maior laboratório do mundo de pesquisa na área de medicina alternativa. Um manual hitlerista proclamava que a nutrição não era um assunto privado. Não soa atual, a partir do momento em que isso ecoa no establishment da saúde pública atual?

7. Qual a definição, então, de fascismo de Goldberg?

Fascismo é uma religião de Estado. Ele presume a unidade orgânica do corpo político e almeja um líder nacional afinado com a vontade popular. Assume responsabilidade por todos os aspectos da vida, como saúde e bem-estar e busca a uniformidade de pensamento e ação: seja pela força, por meio de regulações e pressão social. Qualquer dissenso é problema e, portanto, inimgo.

8. Mussolini e Lênin se encontraram alguma vez?

Isso é discutido até hoje. Mas o fato é que se admiravam mutuamente a ponto de Lênin achar que Mussolini era o único revolucionário de verdade na Itália.

9. Hilter e Mussolini?

Discordavam em vários pontos acirrada e abertamente. Mussolini ameaçou um confronto militar com Hitler para salvar a Áustria fascista de uma invasão nazista em 1934. Mussolini ridicularizava o racismo nazista e duvidava que os alemães pudessem formar um raça pura. Ele dizia que tinha até certa comiseração para as doutrinas nazistas, porque os alemães descendiam de um povo que não sabia ler nem escrever e que nunca registrara a própria vida numa época em que Roma tinha César, Virgílio e Augusto.

10. Quem apoiou os nazistas?

A ideia de que as classes dominantes e a burguesia fossem os vilões dessa história é pura tendência ideológica, mas em grande medida, já foi descartada. O nazismo e o fascismo eram dois movimentos populares e contavam com o apoio de vários extratos da sociedade. Os nazistas subiram ao poder explorando uma retórica anticapitalista na qual acreditavam. Se a esquerda é a mudança e a direita é a manutenção do status quo, então Hitler era de esquerda, um revolucionário. Sua plataforma pregava reforma agrária, abolição da renda por juros, nacionalização das indústrias, expansão dos serviços de saúde, abolição do trabalho infantil, pensão para idosos, garantia de emprego e educação universal.

11. Houve um período de repressão progressista às liberdades civis no governo Wilson?

Os liberais tendem a reclamar da Era McCarthy. Dizem que foi o período mais obscuro da história americana depois da escravidão. É verdade: sob o mccarthismo, alguns escritores de Hollywood que apoiaram Stálin e mentiram sobre isso perderam seus empregos na década de 1950. Mas nada se compara ao que o governo Wilson e seus progressistam impuseram à América. Sob a Lei de Espionagem e a Lei de Sedição, qualquer crítica ao governo, mesmo em sua própria casa poderia lhe render uma sentença de prisão. A delação foi incentivada. Os integrantes da Liga Protetora da América ficou encarregada de ficar de olho em seus vizinhos, colegas de trabalho e amigos. Chegavam a ler suas corresponências. A Patrulha Vigilante Americana espancava os que se recusavam a se alistar no Exército. Eram fascistas praticamente oficiais.

12. Havia alguma semelhança entre Hitler e Franklin Roosevelt?

A bajulação do Homem Esquecido. Havia também apelos populistas ao ressentimento contra os "tubarões", "banqueiros internacionais", "realistas econômicos". Hitler e Mussolini eram mais demagogos que FDR, mas este percebeu a magia de tais apelos. FDR se preocupava com o homem comum. Mas Hitler também. Existem inúmeros trabalhos mostrando que o "New Deal de Hitler" não era apenas semelhante ao de FDR, mas foi mais generoso e bem sucedido.

13. Mas as instituições americanas, que já eram sólidas, travaram projetos de Roosevelt?

Não. FDR gravava secretamente suas conversas, usava o serviço postal para punir seus inimigos, mentiu repetidas vezes para levar o país à guerra - lembra alguém? - e em diversas vezes solapou os poderes do Congresso de fazer guerra. Em 1932, quando foi alertado que muitas disposições do New Deal eram inconstitucionais, deu de ombros. Ele encheria a Suprema Corte com seus cupinchas. Em 1942, disse para quem quisesse ouvir que se o Congresso não fizesse o que ele queria, ele o faria de qualquer modo. Ele questionava o patriotismo de qualquer um que se opusesse à guerra. E criou o complexo industrial-militar que tantos de esquerda atualmente denigrem como fascista.

14. A agitação e a rebeldia dos anos 60 eram um acontecimento inédito?

Nem de longe. A cultura da juventude alemã dos anos 1920 (!!!) e no início da seguinte estava cheia de rebelião, misticismo ambiental, idealismo, uma não pequena dose de paganismo e viam a vida familiar como repressiva e falsa. E eram igualmente intolerantes como os jovens dos anos 60. Professores que não aceitavam sua rebeldia eram perseguidos, vaiados, denunciados. Administradores que tentavam bloquear ou punir suas travessuras eram alvos de protestos maciços e eles achavam que estavam lutando contra o conservadorismo. Queriam governar as universidades o que, para um acadêmico tradicionalista, significava entregar a direção do hospício nas mãos dos loucos.

15. A esquerda continua dizendo que o bacilo do fascismo corre nas veias da direita.

Bom, as principais correntes do pensamento conservador, salvo raras exceções, derivam de campeões do Iluminismo: John Locke, Adam Smith, Montesquieu, Burke. Nenhuma delas com o vínculo intelectual direto com o nazismo ou com Nietzsche ou com o niilismo, o existencialismo e muito menos com o pragmatismo. Enquanto isso, as fileiras dos intelectuais de esquerda estão coalhadas de pensadores derivados diretamente da tradição fascista. E tudo o que se requer é a palavra mágica "marxista" para absolver a maior parte deles. Foucault celebrou a Revolução Islâmica do Irã e a ditadura dos mulás. Marcuse era um protégé de Heidegger e tornou-se o líder do brain trust da Nova Esquerda. Carl Schmitt, um grotesco filósofo nazista, está entre os mais chiques intelectuais da esquerda atual.

16. Pode-se dizer que muitas coisas que se pensam sobre JFK estão erradas?

É claro. A começar pela ideia de que se ele não tivesse morrido, os americanos sairiam do Vietnã. Kennedy era um anticomunista ferrenho e um falcão da Guerra Fria. Fez campanha falando de um fictício "hiato de mísseis" alegando uma suposta inferioridade americana em relação aos mísseis soviéticos. Com isso, conseguiu passar para a direita de Nixon no que diz respeito à política externa. Tentou derrubar Fidel Castro, levou o mundo à beira de uma guerra nuclear. Foi alçado a um dos líderes pelos direitos civis, mas afirmou que "não perdia o sono com o problema dos negros". Kennedy era um obcecado por crises. Nos seus primeiros oito meses, foram dezesseis. Isso demonstra os perigos da paixão fascista na política democrática. A tensão com os soviéticos ele mesmo se empenhou em criar.

17. McCarthy sempre foi demonizado pela esquerda por causa de suas investigações contra comunistas?

Depende. O problema é que comunistas e liberais - aqui no sentido de esquerdistas - sempre fizeram concessões às táticas de McCarthy quando quem estava sendo frito eram seus inimigos. Os próprios comunistas usaram isso para prender trotskistas americanos durante a guerra. O Comitê de Atividades Antiamericanas foi fundado por um progressista, Samuel Dickinson, para investigar a atividade de simpatizantes da Alemanha. Poucos se lembrar que McCarthy tinha origem em bases progressistas.

18. E a Escola de Frankfurt?

Simplificando: foi ela quem sistematizou a ideia de que quem era anticomunista só podia ser louco. Adorno, Horkheimer, Erich Fromm e Marcuse tentaram explicar por que o fascismo era mais popular que o comunismo. Tomando emprestado de Freud e Jung, a Escola de Frankfurt descrevia o naszismo e o fascismo de psicose de massas. Isto era plausível, mas sua análise sustentava que, como o marxismo era objetivamente superior àquelas alternativas, as massas, a burguesia e qualquer um que discordasse dos marxistas tinha de estar, literalmente, louco.

19. Adorno dizia que as pessoas conservadoras precisavam de terapia?

Em seu livro "A personalidade autoritária", Adorno dá conceito F, de fascismo, às pessoas com visão conservadora e precisavam de terapia. A explicação original dos marxistas era que o fascismo se tratava da reação da classe dominante capitalista diante da ascensão das classes trabalhadoras. O que é falso. A Escola de Franfurt habilmente psicologizou isso. Homens que não saberiam lidar com o "progresso" respondem violentamente porque possuem personalidades autoritárias. Assim, quem discorde dos liberais, do escopo e do seu método está padecendo de um deficiência mental, comumente conhecida como fascismo.

20. A esquerda nem sempre renega o populismo.

É verdade. Quando o populismo vem da esquerda, como no caso de Chávez, ela o ama. Mas quando os desejos populistas do povo se contrapõem à agenda da esquerda, subitamente palavras carregadas como "reação", "extremismo" e, é claro, "fascismo" são disparadas a torto e a direito. [À guisa de explicação foi exatamente o que aconteceu depois da derrota da esquerda no referendo sobre o desarmamento. De uma hora pra outra, o povo tinha "desaprendido" a votar. Só reapredeu ao reeleger Lula, claro.]