sábado, 4 de dezembro de 2010

UMA OU DUAS COISAS SOBRE “O FIO DA NAVALHA”

Somerset Maugham nunca me decepcionou. Já havia me maravilhado com “Servidão humana”, que li em 1998 (ou por aí). Depois, li a trabalho “O véu pintado”. Mas que trabalho prazeroso!

Neste livro, o próprio Maugham é um dos personagens e nos conta a história de Emett Templeton, um sujeito que só pensa em ser convidado para festas e, paralelamente, nos mostra o singular Larry Darnell em sua jornada em busca de uma coisa muito simples e fácil de achar: o signficado da vida.

Segue um trecho do romance, um pálido pedaço desta história de buscas. Trata das tentações que Jesus sofreu no deserto. Importante ler até o fim, por causa de sua reviravolta.

— Não lembra que Jesus foi para o deserto e jejuou durante quarenta dias? E então, quando ele estava esfaimado, o tentador lhe apareceu e disse: "Se és filho de Deus, ordena que se façam pães". Mas Jesus resistiu à tentação. Então o demônio o colocou sobre o pináculo do templo e disse: “Se és filho de Deus, lança-te daí abaixo". Pois ele estava sob a proteção dos anjos e estes o teriam amparado. Mas Jesus resistiu. E então o diabo o conduziu a um monte muito alto e mostrou-lhe os reinos do mundo, dizendo: "Todas estas coisas te darei se, prostrado, me adorares. Mas Jesus respondeu: "Vai-te, Satanás". De acordo com o bom e simples São Mateus, foi este o fim da história. Mas não foi, não. O demônio era astucioso e de novo veio a Jesus: "Se aceitares a vergonha e a ignomínia, a flagelação, uma coroa de espinhos e a morte na cruz, salvarás a humanidade, pois maior amor não existe no mundo do que o amor do homem que dá a vida por um amigo". E Jesus sucumbiu. O diabo riu a mais não poder, pois bem sabia que pecados iam os homens cometer em nome do seu redentor.

Dá pra fazer um longa-metragem a partir deste trecho.