quinta-feira, 18 de abril de 2013

O SENSO DAS PROPORÇÕES

I

Ontem, assisti na Globo News um debate onde se defendia cada vez mais a adoção de penas alternativas para desafogar penitenciárias e delegacias. Um dos debatedores dizia até que a pena alternativa tinha que ser dada logo de cara pelo juiz. Com isso, é claro que evitaremos que um ladrão de galinha fique numa mesma cela de um bandido (desculpe o uso de uma palavra tão dura) que estuprou cinco mulheres*.

II

Li, em seguida, no Globo, que há um projeto de lei que pode trancafiar entre dois ou quatro anos um sujeito que vender uma garrafa de cerveja a menores de 18 anos. É a praga do Brasil: quando ideias razoáveis começam a emergir, sempre tem um porra querendo estragar tudo. Quer dizer que o cara vende uma lata de Skol e pode pegar dois anos e ficar ao lado de um esquartejador**. É foda!

O projeto de lei foi aprovado na CCJ, aquela onde delinquentes condenados como JP Cunha e Genoíno podem decidir as leis que podem nos governar. Sortudos: não rolou selinho contra eles.

III

As proporções vão pro cacete por causa de uma ideologia rasteira e tacanha. Um homem de 17 anos não pode ser preso depois de cometer os asteriscos * e **. Jamais. Não é bacana. Não é progressista. É reacionário, feio e cabeça de mamão. Um jovem de 17 anos pode dar um teco na cabeça de um burguês de 19 anos. Aí, fica numa fundação qualquer por três anos (quando fica), porque, bem, é um coitado que não teve educação. Matar é mais jogo do que vender birita…

IV

Preferimos juntar um dono de boteco (que trabalha 16 horas por dia e que vendeu uma garrafa de Skol pra um moleque) com traficantes, estupradores e assassinos do que trancafiar, com outros de sua idade, um sujeito que mata outro por motivo fútil. Vamos mostrar que somos bonzinhos, humanistas, não trancamos cruzamentos e não queremos que um pobre coitado seja punido por sua delinquência. E  ele matou um branco, né? Qual é o problema?

V

Ah, mas quando um “garoto” entra na cadeia, só aprende o que não presta! Na boa, ele não seria condenado por que “só aprendeu” o que não presta. Ele foi pra lá porque justamente já cometeu isso. Ou existe coisa pior do que matar?

VI

Vendeu cachaça pra um moleque: cana, sem pena alternativa. Matou alguém e tinha menos de 18: não teve educação, coitado.

Acabou o senso de proporções no Brasil-Pandeiro.