A chuva tem um vago segredo de ternura,
algo de sonolência resignada e amável,
uma música humilde se desperta com ela
que faz vibrar a alma adormecida da paisagem.
É um beijar azul que recebe a Terra,
o mito primitivo que torna a realizar-se.
O contato já frio de céu e terra velhos
com uma mansidão de entardecer constante.
(...)
A nostalgia terrível de uma vida perdida,
o fatal sentimento de ter nascido tarde,
ou a ilusão inquieta de uma manhã impossível
com a inquietude quase da cor da carne.
(...)
E são as gotas: olhos de infinito que fitam
o infinito branco que lhes serviu de mãe.
(...)
Oh! chuva silenciosa, sem tormentas nem ventos,
chuva mansa e serena de sineta e luz suave,
chuva boa e pacífica que és, a verdadeira,
a que amorosa e triste por sobre as coisas cais!
Oh! chuva franciscana que levas as tuas gotas
almas de fontes claras e humildes mananciais!
Quando sobre os campos desces lentamente
as rosas do meu peito com teus sons abres.
(...)
Minh'alma tem tristeza de chuva serena,
tristeza desginada de coisa irrealizável,
tenho no horizonte um luzeiro aceso
e o coração me impede que corra a contemplá-lo.
Oh! chuva silenciosa que as árvores amam
e és sobre a planície doçura emocionante;
dás à alma as mesmas névoas e ressonâncias
que pões na alma adormecida da paisagem!
Federico García Lorca
Livro de Poemas
Galhofas
Há 4 horas