sexta-feira, 3 de outubro de 2008

STÁLIN (15): BANHO DE SANGUE



A 2 de julho de 1937, o Politburo ordenou que os secretários locais prendessem e fuzilassem "os elementos anti-soviéticos mais hostis" que deveriam ser sentenciados por troikas, tribunais de três homens que incluíam usualmente o secretário do Partido, o procurador e o chefe do NKVD local.

O objetivo era "acabar de uma vez por todas" com todos os inimigos e com aqueles impossíveis de educar no socialismo, de modo a acelerar o desaparecimento das barreiras de classe e, portanto, a instauração do paraíso para as massas. Essa solução final era um massacre que fazia sentido em termos da fé e do idealismo do bolchevismo, que era uma religião baseada na destruição sistemática das classes. O princípio de ordenar o assassinato com cotas industriais do Plano Qüinqüenal era, portanto, natural. Os detalhes não importavam: se a destruição dos judeus por Hitler foi genocídio, então aquilo foi demicídio, a luta de classes se transformando em canibalismo.

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Não demorou para que esse "moedor de carne" adquirisse tal impulso que, conforme a caça às bruxas se aproximava de seu auge e os ciúmes e as ambições locais se atiçavam, cada vez mais gente era jogada na máquina. As cotas foram logo cumpridas pelas regiões, que pediram então números maiores: entre 28 de agosto e 15 de dezembro, o Politburo concordou com o fuzilamento de outras 22500 pessoas e, depois, com mais 48 mil. Nisso, o Terror foi diferente dos crimes de Hitler, que destruíam sistematicamente um alvo limitado: judeus e ciganos. Na Rússia, ao contrário, a morte era, às vezes, aleatória: o comentário esquecido há muito tempo, o flerte com a oposição, a inveja do emprego, da mulher ou da casa de outro homem, vingança ou simplesmente pura coincidência causaram a morte e a tortura de famílias inteiras. Isso não importava: "Melhor ir longe demais do que não ir longe o suficiente", disse Iejov a seus homens enquanto a cota original de prisões da Ordem n° 00447 inflava para 767397 prisões e 386798 execuções.

Ao mesmo tempo, Iejov atacava "contingentes nacionais", ou seja, a execução por nacionalidade, contra poloneses e alemães que viviam na Rússia, entre outros. A 11 de agosto, ele assinou a Ordem n° 00485, para liquidar "diversionistas e grupos de espionagem poloneses", a qual consumiria a maior parte do Partido Comunista Polonês, a maioria dos poloneses no interior da liderança bolchevique, qualquer um que tivesse "contatos consulares" ou sociais e, é claro, suas esposas e filhos. Cerca de 350 mil pessoas (das quais 144 mil poloneses) foram presas nessa operação, com 247157 fuzilados (110 mil poloneses) - um minigenocídio. (...) No total, pelas últimas estimativas, combinando as cotas e os contingentes nacionais, um milhão e meio foram presos nessas operações e cerca de 700 mil fuzilados.

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E tal como o holocausto de Hitler, tratou-se de uma façanha colossal de administração. Iejov chegou mesmo a especificar quais arbustos deveriam ser plantados para cobrir as covas em massa.

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Definitivamente a esquerda é superior à direita. Em número de mortes não há o que questionar. Em 17 anos de ditadura no Chile, morreram 3 mil pessoas. Não deveria ter morrido nenhuma, é lógico... Na Rússia também. Mas em quatro meses (!!!), mataram 7 vezes mais do que o truculento Pinochet. E ainda tem gente que pede para a gente lavar a boca quando fala de Stálin... Só pode ser sacanagem...

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Para situar, Nikolai Iejov era o chefão da NKVD, que depois de se tornou KGB. É um, digamos, antecessor de Wladimir Putin...