quinta-feira, 9 de julho de 2009

APRENDENDO A VIVER, de Sêneca

image Acho que foi a primeira tentativa de se escrever um guia de auto-ajuda, mas com classe, evidente. Logo de cara, Sêneca, em cartas enviadas ao amigo Lucílio, faz uma defesa vigorosa do melhor aproveitamento do tempo, da vida, o clássico “Carpe diem”:

“Podes me indicar alguém que dê valor ao seu tempo, valorize o seu dia, entenda que se morre diariamente? Nisso, pois, falhamos: pensamos que a morte é coisa do futuro, mas parte dela já é coisa do passado. Qualquer tempo que já passou pertence à morte.

Então, caro Lucílio, procura fazer aquilo que me escreves: aproveita todas as horas; serás menos dependente do amanhã se te lançares ao presente. Enquanto adiamos, a vida se vai. Todas as coisas, Lucílio, nos são alheias; só o tempo é nosso.”

Num dado momento, há também a apologia da velhice:

“De cada prazer, o melhor é o fim. É doce a idade avançada, mas não ainda sob a decrepitude, e também eu penso que o período extremo da vida tem os seus prazeres ou, ao menos, no lugar dos prazeres, não sentir mais necessidade deles. Como é doce ter se cansado e abandonado os desejos!”

Sêneca acreditava que o importante era viver com qualidade:

“O que importa sair antes ou depois de um lugar de onde deveremos todos sair um dia? O que importa não é viver muito, mas viver com qualidade. Com efeito, viver muito tempo quem decide é o destino. Viver plenamente, o teu espírito."

As cartas entre Sêneca e Lucílio também ajudam a esclarecer algumas dúvidas a respeito da crucificação. Até hoje, apesar das evidências arqueológicas, há pessoas que insistem que Jesus – e os demais condenados – foram pregados numa estaca, num poste sem o travessão horizontal. Na carta CI, Sêneca diz:

“Vale a pena aumentar o sofrimento, ficar dependurado com os braços abertos, tudo isso para adiar o que o suplício tem de melhor, o seu fim?”

Na essência, o que Sêneca quer nos dizer é:

“O que realmente importa é viver bem, e não viver muito. Muitas vezes, o melhor é que a vida não dure muito tempo.”

Sêneca foi preceptor de Nero, o que evidentemente não devia fazer bem à saúde de ninguém. Tentou fazer com que governasse com justiça, mas aos poucos adotou uma certa complacência com os desmandos e a corrupção nerista (!), o que lhe valeu críticas de defender um modo de vida e viver de outro. Nada muito diferente do que acontece em Brasília – com a desvantagem de não termos nenhum Sêneca por perto... Acusado de conspirar contra o imperador, foi obrigado a se suicidar e o fez com placidez e resignação. Teve morte lenta e dolorosa – sua primeira tentativa de suicídio não foi bem sucedida e ele teve que tentar mais uma vez.

De todo modo, “Aprendendo a viver” é um grande livro apesar da edição da L&PM não conter toda a correspondência entre Sêneca e Lucílio.

Vale a pena conferir.