sexta-feira, 20 de novembro de 2009

FASCISMO DE ESQUERDA, de Jonah Goldberg - PARTE 1

Você é a favor da reforma agrária? Da educação pública? Da previdência social? Da extinção do trabalho infantil? Parabéns! Você seria um excelente nazista!

Não, não olhe para mim pensando que estou defendendo Hitler. Estas eram bandeiras do Partido Nazista e devo dizer que ele implementou essas modificações na Alemanha numa época em que o nazismo, o fascismo e o comunismo causavam admiração em todo o mundo. Eles iriam substituir de forma definitiva a democracia liberal, refém de partidos políticos corruptos e do grande capital.

Mas então por que o comunismo continua sendo tolerado e o nazismo foi execrado? Bom, eu não tolero o comunismo e muito menos o nazismo. Mas se antes achava que eram gêmeos bivitelinos, agora sei que são univitelinos mesmo. As mesmas plataformas, o mesmo salvacionismo, a mesma pregação da violência, a mesma militarização. A diferença na Alemanha é que não se procurava uma internacionalização. Fortalecia-se o nacionalismo. E, apesar do antissemitismo de Stálin, ele não predominava entre os bolcheviques.

Ah, sim, e depois da Segunda Guerra, Stálin disse: o fascismo é ruim e o comunismo é maneiro. E todo mundo aceitou. Mesmo nos Estados Unidos, pessoas ligadas à ala progressista do Partido Democrata eram ardorosas defensoras do nazi-fascismo. Depois do Holocausto, tentaram apagar seus rastros. Em vão. Pegava mal ser admirador de Mussolini, por exemplo, que chegou a pensar em entrar na guerra do lado dos... aliados.

A dificuldade de se definir o fascismo se deve, sobretudo ao fato de que existiam vários fascismos. Mussolini não era antissemita e a Itália só perseguiu judeus depois que Hitler instalou um governo títere em solo italiano. Por sinal, muitos judeus eram do Partido Fascista. Podemos ver isso em "O jardim dos Finzi-Contini", por exemplo. Franco, ao contrário de Hitler, que queria, como bom nietzchiano, acabar com o Cristianismo, era um católico fervoroso e se recusou a entregar judeus ao Führer.

Das definições dadas no livro de Jonah Goldberg chega-se à conclusão espantosa de que a primeira experiência fascista ocorreu no único lugar onde se poderia jurar que ele nunca aconteceria: os Estados Unidos da América. O governo de Woodrow Wilson. O governo do tão decantado Partido Democrata.

Mas vamos com calma. Falarei deste fascinante livro aos poucos na base de perguntas e respostas, como se eu estivesse entrevistando seu autor, Jonah Goldberg.

1. Por que os esquerdistas chamam os direitistas - ou simplesmente quem discorde deles - de fascistas?

Porque este é o seu grande "argumento". Afinal de contas, quem é que leva a sério um fascista? "Você não tem a obrigação de ouvir um argumento de um fascista (...)". É por isso que Al Gore e muitos outros ambientalistas têm tanta facilidade em comparar os céticos a respeito do aquecimento global àqueles que negam a existência do Holocausto.

2. O que se tornou, enfim, a palavra fascista?

Um sinônimo de herege. Atualmente, significa algo "não desejado", como notou, em 1946, George Orwell. A esquerda usa outras palavras com significados menos elásticos com o mesmo intuito: "racista", "homófobo", "sexista" e, pasmem, "cristão".

3. A era dos debates acabou?

Bom, este seria o sonho dourado dos esquerdistas. Mas quem seria contra a "guerra contra a pobreza", "guerra contra o aquecimento global"? Exortações deste tipo que encontramos quase diariamente na imprensa são na verdade "equivalentes morais para a guerra". Os especialistas e os cientistas sabem o que fazer, dizem-nos. Não há o que debater. Embora numa forma mais gentil e benigna, é a lógica do fascismo.

4. Hoje, nos sentimos confortáveis equiparando racismo e nazismo, não sem razão. Mas por que não se equiparam racismo e afrocentrismo?

É uma boa pergunta. Afrocentristas do passado, como Marcus Garvey, eram pró-fascistas. A Nação do Islã tem vínculos com nazistas e sua teologia é himmleriana. Os Panteras Negras são essencialmente fascistas. Não diferem nada nos seus procedimentos dos camisas-pardas de Hitler.

5. Comparar israelenses a nazistas é injusto?

Injusto e problemático. Não se ouve isso, por exemplo, em relação a grupos como o National Council of La Raza. Recentemente, Barack Obama indicou para a Suprema Corte a juíza Sonia Sotomayor, integrante deste grupo. "Tudo pela raça, nada fora da raça". Por que será que quando um homem branco despeja tais sentimentos, ele é fascista, mas quando um negro diz a mesma coisa, é multiculturalismo?

6. Fidel Castro é um fascista?

Fascista de carteirinha. Mas como a esquerda aprova sua luta contra o imperialismo e ele usa palavras mágicas do marxismo, então é, segundo a própria esquerda, estúpido chamá-lo de fascista. Mas chamar Reagan de fascista é bacana. Coisa de gente que pensa.

7. Então o fascismo não é um fenômeno de direita?

Sempre houve a crença de que fascismo e comunismo estão em polos opostos. Nada mais falso. Historicamente, sempre competiram pelas mesmas bases, buscando controlar o mesmo espaço social. Em termos de teorias e práticas, as diferenças são mínimas. Essa crença de que eram coisas diferentes foi um truque intelectual "vermelho" - e muito bem sucedido.

8. Tanto o comunismo quanto o fascismo atraíram seguidores no Ocidente. Por quê?

Porque eram movimentos internacionais. Vivíamos um momento fascista no começo do século XX, sobretudo depois da Primeira Guerra Mundial. Este momento fascista reuniu vários elementos que compunham a política e culturas da Europa: ascenção do nacionalismo, o Estado de bem-estar social de Bismarck, o colapso do Cristianismo como fonte de ortodoxia social e política. Em lugar do Cristianismo, foi oferecida uma nova religião: o Estado divinizado e a nação como comunidade orgânica.

9. Mas por que o nazismo passou a ser mal visto?

Por causa do Holocausto. Depois do massacre alemão, não era chique louvar Hitler e Mussolini como muitos progressistas haviam feito nas décadas de 20 e 30. O fascismo era visto como um movimento social progressista. Depois disso, ninguém queria se ver ligado a um nacionalismo extremista e genocida. A partir daí, a esquerda redefiniu o fascismo como coisa de gente "de direita" e projetaram seus pecados sobre os conservadores. Mas não deixaram de tomar emprestados alguns dos pensamentos fascistas e pré-fascistas até hoje.

10. O presidente Lula disse que na Venezuela, existe "democracia até demais". Também pensavam assim, em relação á Alemanha, alguns americanos na década de 20?

Claro. Os pais do New Deal achavam que o fascismo parecia uma ideia bastante boa, um experimento que valia a pena fazer. O escritor progressista W. E. B DuBois achava que o nazismo era necessário para pôr em ordem o Estado. Em 1937, ele fez um discurso no Harlem dizendo que em alguns aspectos, havia mais democracia na Alemanha do que em anos passados. Não é praticamente a mesma coisa?

Nossa entrevista continua em breve.