sexta-feira, 23 de abril de 2010

OS SANDINISTAS E CHICO BUARQUE

Leiam este trecho de um post do blog de Reinaldo Azevedo:

Em 1987, o poeta Carlos Drummond de Andrade concedeu uma entrevista a Luiz Fernando Emediato — integra aqui. Destaco um trecho para vocês. Comento em seguida:

O senhor já foi convidado para visitar Cuba, como outros intelectuais que lá estiveram e até escreveram livros a respeito?
Drummond -
Nunca fui, não. Aliás, uma vez eu estava posto em sossego, cerca de meia-noite, e me telefonou o Chico Buarque de Holanda, pessoa que admiro muito, mas com quem não tenho nem contato. Gosto da música dele. Telefonou e disse: “Preciso conversar com você”. Eu disse: “A esta hora da noite? Meu Deus, aconteceu um drama, para o Chico me procurar!” Mas disse. “Pois não, venha”. Apareceu em companhia de um cidadão moreno, magro. Era já meia-noite e meia. O cidadão falou meio enrolado, era o embaixador da Nicarágua no Brasil, que tinha lido uma crônica minha no jornal e achava que eu estava mal informado sobre o país dele. Ah, tenha paciência! Eu tenho noção do que escrevo, compreendeu? Não sou partidário dos Estados Unidos, longe disso, acho a agressão à Nicarágua uma coisa estúpida. Mas não se pode negar que a Nicarágua é uma ditadura. Eles fecharam o La Prensa, onde tenho amigo, o poeta Pablo, Antonio Cuadra. E então falei para o Chico: “Tenha paciência”!

E o embaixador? Ouviu e foi embora?
Drummond -
Era delicado, como todo embaixador.

Comento
É isso. Todo mundo sabia, à época, que a Nicarágua havia saído da ditadura do delinqüente Anastasio Somoza para cair na ditadura dos delinqüentes sandinistas. Chico também sabia. Mas estava lá, fazendo o seu trabalho de relações públicas para uma tirania. E foi uma espécie de porta-voz dos desmandos de Cuba.

Agora vejam o que os outrora democratas sandinistas de Chiquinho estão fazendo na Nicarágua atual contemporânea de nossos dias:

MANÁGUA - Pelo terceiro dia consecutivo, manifestantes pró-governo da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) atacaram a sede da Assembleia Nacional com pedras e bombas de fabricação caseira, numa onda de violentos protestos que paralisou várias áreas da capital, Manágua. Depois de dois dias paralisadas, as sessões legislativas foram retomadas nesta quinta-feira em clima tenso, com a participação de 90 dos 92 parlamentares da casa. Os deputados da oposição, porém, só conseguiram acesso ao prédio sob forte escolta policial.

Os manifestantes sandinistas tentam impedir que a oposição derrube um decreto do presidente Daniel Ortega, visando à sua reeleição, em 2011. A tensão vem crescendo na Nicarágua desde janeiro, quando Ortega emitiu um decreto presidencial determinando que 25 juízes eleitorais e da Suprema Corte permaneçam em seus cargos indefinidamente - mesmo após o término de seus mandatos. Advogados e membros da oposição, comandada pelo ex-candidato à Presidência Eduardo Montealegre, consideram a medida inconstitucional, já que a decisão é de competência do Legislativo. O bloco opositor garante já ter reunido os 47 votos necessários para revogar, no Parlamento, a determinação. (Texto completo aqui.)

Sou fã da obra de Chico Buarque. Tenho muitos dos seus CDs na minha estante. Mas não é por isso que vou considerá-lo um beato, um messias, um sujeito acima do bem e do mal: infelizmente, a exemplo de Gabriel García Márquez, um de meus autores favoritos, é um defensor de ditaduras. Algum jornalista poderia perguntar a ele, numa próxima entrevista, o que ele acha disso. Mas, infelizmente também, só lhe perguntam platitudes.