Quando meu avô nasceu, em 1920, ainda não existia Copa do Mundo, vivíamos na República do Café com Leite e não havia sequer rádio. O Brasil era um país essencialmente agrário, ia-se de trem do Rio para São Paulo e ainda faltavam 19 anos para estourar a Segunda Guerra Mundial. Quando veio para o Rio, a Penha era um bairro sem ruas asfaltadas, com valões a céu aberto, mas tinha praia. Viveu anos de agitação política: Revolução de 30, Estado Novo, redemocratização, ditadura militar, nova redemocratização. Aliás, o Brasil vive se redemocratizando (espero que, apesar do PT, não precisemos disso de novo). Viu o Brasil ser campeão mundial 5 vezes – tudo bem, nas duas primeiras vezes só escutou. Quem previsse o advento da internet, seria chamado de louco. Casou, fez Bodas de Ouro, enviuvou. Viu três filhos nascerem, crescerem e, infelizmente, um deles morrer. Viu nove netos nascerem, crescerem e lhe darem bisnetos. Está completando 90 anos hoje. Lúcido, com as limitações impostas pela longevidade, trabalhou 56 anos só na Companhia Estadual de Gás onde pensavam que ele, devido ao seu conhecimento dos trâmites burocráticos, fosse advogado. Não era. Não é. Sempre divertido, preocupado com a educação dos filhos e netos (não descansou enquanto não encontrou um livro que um professor meu pedira, quando eu estudei no IFCS: eram tempos sem estante virtual).
Dele, vou guardar sempre uma pergunta que ele se fez recentemente:
- Onde foi que eu acertei?