quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

LIVROS, LIVROS E MAIS LIVROS–AS LETRAS QUE ME DELEITARAM EM 2010

Este ano, li menos que ano passado. Mas também me deparei com coisas muito boas e que recomendo como é o caso do GUIA POLITICAMENTE INCORRETO DA HISTÓRIA DO BRASIL, de Leandro Narloch, que põe a nu várias questões desde a invenção do avião por Santos Dummont até o cuidado dos índios com o meio-ambiente – que está longe de ser verdade.

Também li LACERDA NA GUANABARA sobre o trabalho gigantesco que Carlos Lacerda teve para modernizar o Rio de Janeiro. Trabalho de ouro, que vale muito a pena, sobretudo para soterrar velhos preconceitos vindos da esquerda em relação a este administrador admirável.

Até hoje, fico sem entender a razão de Roberto Carlos ter decidido censurar a biografia escrita por Paulo César Araújo, ROBERTO CARLOS EM DETALHES. O livro serviu para aumentar minha admiração pelo Rei, as inovações que ele e seus companheiros de trabalho criaram, os velhos preconceitos que ele precisou vencer. Bobagem dele de proibir o livro. Aliás, bobagem querer proibir qualquer coisa na era da internet. É luta perdida desde o começo.

O LIVRO NEGRO DO COMUNISMO revela todo o horror de uma utopia que viria para libertar a humanidade dos jugos malvados do capitalismo e que, por tabela, criaria um novo homem. Resultado: mais de cem milhões de mortos na URSS, China, Coreia do Norte, Camboja, Vietnã, Cuba, Europa Oriental… fracasso total e um rastro de miséria por onde passou o furacão do foice e do martelo.

Fui apresentado a notáveis autores de ficção, como Orham Pamuk e seu romance NEVE, passado numa cidadezinha na fronteira entre a Turquia e a Armênia chamada Kars, um microcosmo do eterno embate deste país entre o secularismo e a tentativa de se criar por ali uma nova república islâmica. Muito bom.

Ainda não havia lido a distopia de William Golding, O SENHOR DAS MOSCAS, e até hoje me pergunto por que não o fiz antes. Grosso modo, as origens do mal e do totalitarismo estão em nós mesmos, independente de nossa idade.

A MORTE DE IVAN ILITCH já comentei por aqui. Tolstoi me fez ver com uma claridade ímpar a estrutura de uma novela. Só falta esfregar o papel na nossa cara e dizer: “É assim que se faz!”

O PAÍS DAS NEVES, de Yasunari Kawabata, com sua prosa delicada e elegante, mostra um triângulo amoroso onde não há uma única cena de putaria, um único palavrão, mas a tensão sexual está lá, o tempo todo. Coisa de mestre.

Indicado por Paulo Polzonoff Jr há muito tempo atrás, AS COSMICÔMICAS, de Ítalo Calvino são uma verdadeira ode à imaginação. Tomando por base teorias astronômicas, o autor nos leva ao começo do Universo, onde nem a cor existia, em contos fantasticos protagonizados por um personagem cujo nome é impronunciável.

Foi o ano em que descobri Coetzee, DESONRA, outra indicação de Polzonoff, o que me fez também selecionar mais minhas leituras. Aos 40, já não quero me aventurar muito em literatura-pipoca embora não a abomine de todo. “Desonra” é maravilhoso, duro, seco, uma obra-prima mesmo.

VIAGENS DE GULLIVER, O FIO DA NAVALHA e IVANHOÉ também estão recomendados. Assim como o notável O NÁUFRAGO, de Thomas Bernhard, e a obsessão de seus personagens com as Variações Goldberg, de Bach.

Pra terminar, TIA JÚLIA E O ESCREVINHADOR, que estava lendo justo na época em que Mario Vargas Llosa, seu autor, ganhou merecidamente o Nobel de Literatura. Creio que Pedro Camacho, o autor de radionovelas que toca a história pra frente, seja um dos personagens mais bem construídos da Literatura.

Se der tempo, amanhã falo dos filmes.