E digo isso por um motivo simples: nele, vocês acompanharão, sobretudo, toda a angústia que é o processo de criação e o que ele envolve.
Quando estamos começando a trilhar as sendas obscuras da criação*, temos a impressão de que os autores mais famosos, mais experientes, acertam logo de cara devido ao seus talentos inquestionáveis. Ledo engano. Vamos aprendendo com o tempo que todos, invariavelmente todos os grandes roteiristas de cinema, da TV, os grandes dramaturgos, todos eles, enfim, chegaram num ponto onde pensaram em largar tudo e vender bijouterias em Trancoso.
E este é o principal destaque do livro de Linda Seger, consultora de roteiros nos Estados Unidos. Ela traz não a infalibilidade olímpica dos escritores, mas o seu lado humano e como eles resolveram problemas que o próprio roteiro que escreviam estava criando.
Há dicas, truques e quebra-galhos.
Um dos mais eficientes é a criação de uma backstory do personagem. Backstory é uma espécie de folha corrida do personagem, o que ele fez, qual o seu relacionamento com os seus pais, amigos e parentes, seus traumas, seus medos e certezas que aconteceram antes de você escrever a CENA 1. LUGAR TAL. EXT. DIA. Você pode nem usar 10% da backstory, mas como ela ajuda!
Pesquise. Pesquise bastante o seu personagem, principalmente se ele pertencer a um mundo que você não conhece. Entreviste. Pentelhe. Vá às bibliotecas. Tem um certo exagero no livro quando Linda sugere que você deve viver como o seu personagem. Se puder fazer isso, ok. Mas se não puder, não se apavore...
Uma outra boa dica: no seu primeiro roteiro, escreva sobre o que você já conhece. Doe um pouco de sua vida para o personagem. Pense como você agiria no lugar dele. João Ubaldo Ribeiro chora quando percebe que criou um personagem. É um momento espetacular, sobretudo quando ele ganha autonomia, quando ele resolve fazer o que bem entender em determinada cena.
Linda também disponibiliza vários exercícios ao final de cada capítulo. Dá até umas dicas sobre como escrever um bom diálogo. Num dado momento, ela diz que uma boa fala não pode ter mais de três linhas. Também acho isso um exagero, mas em sitcoms é exatamente assim que se faz, para que a dinâmica da cena não se perca. Além disso, o livro é mais voltado para cinema e TV americanas. Nas novelas brasileiras, alguns textos podem ser grandes, posto que o autor, não raro, precisa estar recontando partes da história.
Linda Seger entrevistou autores de roteiros de filmes como "Entre dois amores", "Gente como a gente", "Rain man" e seriados como "Profissão perigo" e "Cheers", além de análises e mais análises de outros filmes, seriados e, sim, comerciais de TV.....
Pra quem pensa em começar, é um bom ponto de partida.
*Expressão meio aboiolada, mas de certo impacto.