terça-feira, 12 de agosto de 2008

A ARTE DA ADAPTAÇÃO, de Linda Seger

Lembro de uma entrevista de Lauro Cézar Muniz, autor de novelas consagradas como "O Casarão", "Roda de fogo" e aquela do Sassá Mutema. Ele adaptou para o cinema o livro de Graciliano Ramos, "São Bernardo" e disse que encontrou a cena com a qual iniciou o roteiro no meio do livro.

Lembro também que numa oficina de roteiros, a autora Maria Carmem Barbosa disse que nunca adaptaria uma história. Afinal, segundo ela, não tem a menor graça, porque já está tudo lá. Peço licença à Maria Carmem com quem aprendi muito, mas muito mesmo, mas adaptar não é copiar. Pelo contrário: em alguns casos é recriar.

E é disso que trata este livro de Linda Seger. E serve também para aqueles que querem começar a carreira de roteirista adaptando um conto ou um romance por que ´'mais fácil". Não é, não. Nem sempre no livro você encontra tudo aquilo que precisa pra transformar um livro, uma peça numa obra audio-visual. E no caso de Lauro Cézar, a cena que abre o filme ele achou lá no meio da história e trouxe pra frente.

A bem dizer, muitas vezes você encontra uma história praticamente pronta. Em outros casos, você precisa criar personagens novos, fundir os que já existem, bolar enredos secundários, alterar o perfil de um ou outro personagem, e, last but not least, lembrar daquela música de Caetano Veloso, "Trilhos urbanos", onde ele pergunta: "Será que esses olhos são meus?" Tá, essa eu aprendi com o melhor professor de roteiros do país, o Flavio de Campos. Mas é a pura verdade. Você tem que escolher quem vai contar a história. Pelos olhos de quem saberemos o que você quer mostrar...

Linda Seger avisa que este é um livro de consulta. Não precisa ser lido exatamente na ordem em que ele foi escrito, até porque as necessidades do autor decidido a adaptar uma obra podem ser diferentes no momento da leitura.

Noto que o livro foi escrito para pessoas que querem se aventurar no cinema. Principalmente o cinema de entretenimento, o que não é demérito algum, desde que você resolva escrever um bom filme. Creio que ele não é muito útil para quem tem, pelo menos, a curiosidade de escrever novelas ou minisséries, que possuem outras nuances, que não são abordados por dona Seger. Por exemplo, ela defende diálogos curtos na telona. Na TV, você também pode escrevê-los assim, sobretudo numa sitcom. Mas aceita-se na telinha um "bife" (aquele texto imenso) vez ou outra.

Há também dicas de como se adquirir os direitos de uma obra caso você queira escrever um filme. Nos Estados Unidos, isso fica por conta do autor. No Brasil, geralmente, as emissoras compram os direitos e escolhem um autor para adaptá-lo.

Para completar, não pense que a adaptação de uma obra é coisa menor. Não é. Ninguém vai poder te acusar de falta de originalidade ou coisa que o valha. E esqueçam essa história de que "o livro é diferente". É claro que é! Tem que ser! Num romance, por exemplo, o autor pode escrever dez páginas sobre os sentimentos de determinados personagens. O roteirista nem pensar! O roteirista pode cortar um dos personagens que você mais gostou em determinado romance se achar que ele atrapalha a ação.

E não custa lembrar que a massacrante maioria das obras que ganharam o Oscar de Melhor Filme eram... adaptações...