quinta-feira, 28 de agosto de 2008

HISTÓRIAS DE PRESIDENTES, de Isabel Lustosa

Biriba, Tico-Tico, Mé, Lalau e Barbado; Nhô Derfim, Pita, Dudu e Moleque Presepeiro; Gegê e Nonô.

Parece a escalação de time de várzea dos anos 50, mas estes são os apelidos dos presidentes da República que passaram pelo Catete entre os anos de 1897 e 1960, quando a capital, infelizmente, se transferiu para Brasília.

O livro de Isabel Lustosa traz a história formal por trás dos ex-presidentes, mas o saboroso mesmo é quando lemos a história contada através das publicações humorísticas que abalaram a República. E coloco o verbo abalar sem aspas, porque algumas abalavam mesmo. Sobretudo aqueles que não tinham um bom relacionamento com a imprensa.

E tome charge da Revista Ilustrada, da Careta, d'OMalho, d'A Manha... E tome os traços de J. Carlos, Calixto, Belmonte, Angelo Agostini, entre outros. Sinal dos tempos, antigamente os humoristas se esmeravam até nos sonetos para dar uma sacaneada no presidente de plantão.

Há também passagens deliciosas como a que revela que Nilo Peçanha, cansado de seu ostracismo na vice-presidência de Afonso Pena, colocava quepes de oficiais na varanda de sua casa em Icaraí, bairro de Niterói, para que seus vizinhos pensassem que ele estava sendo prestigiado pelas Forças Armadas.

Um dado digno de nota: a austeridade com a qual viviam os presidentes no Catete. Nada de ostentação, de grandes aparatos de segurança. Uma grande preocupação com o dinheiro público, coisa que nos causa espanto em tempos de cartões corporativos sem fundo. Como alguém já disse (infelizmente me escapa o nome do autor da frase, que cito de memória), antigamente tínhamos eleições desonestas, mas elegíamos homens honestos. Hoje, temos eleições honestas e elegemos homens desonestos...

Lendo "Histórias de presidentes" vemos que vai por água abaixo a idéia de que o povo brasileiro é sábio. Bom, segundo João Ubaldo Ribeiro, se fosse sábio, não viveria como vive. E uma explicação disso está aqui, num trecho que se refere ao presidente Washington Luís:

"S. Exa jamais disse que toda aquela ingênua gente queria que ele dissesse, mesmo só dos dentes para fora: que no seu governo não seria olvidada a solução do 'secular problema do Nordeste', que o seu governo continuaria a promover a 'redenção do maior crime nacional' e patati e patatá...

Irritado com essa quase aspereza, um matuto, dos muitos que preferem ser engodados, comentou:

- Isso é que vai ser governo ruim! Se aquele homem pequeno, que se chamava Afonso Pena, prometeu mundos e fundos e não fez nada, façam de conta este boca de nó-cego!..."

Sabemos que nos últimos tempos, o presidente Lula têm se comparado com Getúlio Vargas. Não por acaso. Segundo a socióloga Aspásia Camargo, citada no livro:

"Como Maquiavel, ele [Getúlio] será acusado de aplicar à política uma ética própria, desvinculada da moral, onde a astúcia é utilizada como um recurso universalmente político."

É ou não é a cara do atual ocupante do Planalto/Alvorada?

Ler o livro de Isabel Lustosa é também um passeio por histórias de Rui Barbosa, Osvaldo Cruz, Francisco Glicério, Hilário de Gouveia, Quintino Bocaiúva e outras ruas, avenidas e bairros do Rio de Janeiro...

Há também um apêndice - incluído nesta edição - contando as histórias de dois presidente pré-Catete (a sede do governo era o Palácio do Itamarati): Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto.

Um livro divertido e informativo. Podem mandar brasa.

À guisa de explicação
Este volume me foi enviado por uma agência que trabalha para o Grupo Ediouro, do qual a Editora Agir agora faz parte com a condição sine qual non de poder elogiar a obra ou detoná-la, porque a minha opinião eu não vendo, não troco e não financio.

Aqui você pode saber mais sobre o livro e até baixar um capítulo para ler no sacrossanto recesso de seu lar.