Renata Lo Prete, FSP:
Ricardo Noblat:
Dora Krammer, Estadão
Leituras 1. A campanha de Marta testou o comercial "Sabe se é casado? Sabe se tem filhos" antes de ir ao ar. Colaboradores da ex-prefeita dizem que, nos grupos de discussão, as questões levantadas pela peça não adquiriram a conotação que desde domingo dá dor de cabeça aos petistas.
Leituras 2. A direção nacional do PT contabilizava ontem dezenas de e-mails, alguns enviados por representantes da intelectualidade ligada ao partido, criticando duramente o comercial.
Nem ele. Memória de um veterano da campanha de 1988: Maluf, que é Maluf, não fez comercial para perguntar se Erundina era casada.
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Ricardo Noblat:
A primeira geração dos aloprados do PT empurrou Lula para o segundo turno da eleição presidencial de 2006. Parecia certa a vitória dele no primeiro turno. Aí os aloprados entraram em cena, ajudaram a forjar um dossiê contra José Serra e Geraldo Alckmin, ambos do PSDB. E aí... Bem, o resto é História.A segunda geração dos aloprados do PT empurrou Marta Suplicy para a lixeira da eleição municipal de 2008. A derrota dela parecia certa desde o fim do primeiro turno. Aí os novos aloprados produziram um comercial de televisão perguntando se Gilberto Kassab era casado e tinha filhos. E aí...
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Marta perdeu para ela mesma. Primeiro porque avalizou a veiculação do comercial. Segundo porque durante o debate foi agressiva, arrogante e antipática em excesso. No futuro se dirá que ao chegar ao poder o PT fez tudo o que condenou quando era oposição - até mesmo copiar Collor.
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Dora Krammer, Estadão
A situação do PT em São Paulo era difícil. Praticamente impossível para Marta Suplicy virar o jogo sobre Gilberto Kassab, segundo avaliação do próprio Palácio do Planalto, expressa na formal participação do presidente Luiz Inácio da Silva.
De todo modo, o partido e a candidata tinham duas semanas para administrar a desvantagem da melhor maneira possível e tentar sair da disputa, senão com uma vitória quantitativa, ao menos com seu capital político razoavelmente preservado no maior colégio eleitoral do País para enfrentar a dura luta pela sucessão de Lula.
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Que o PT perdeu de vez a tramontana na presente disputa, isso ficou claro no domingo quando entrou no ar a propaganda com perguntas - "é casado?" "tem filhos?" - cheias de múltiplos sentidos.
O surpreendente, e ainda carente de explicação sob o ponto de vista do marketing político, é o partido não enxergar o potencial de autodesmoralização contido nesse tipo de estratagema.
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Aqui, no caso de Gilberto Kassab não se trata de uma ação exposta por ele ao juízo público. Aliás, nem se trata de uma questão, como no episódio arquitetado por Fernando Collor. A campanha petista agora recorreu à pior das torpezas que é a insinuação.
Alega que o eleitor precisa conhecer o candidato. É verdade. Então, se o sentido era o esclarecer, caberia à campanha petista falar claro, como fez Collor em sua sordidez e Marta ao não submeter sua felicidade às estruturas morais do alheio.
A propaganda não informa qual o dado da vida do prefeito está sendo subtraído do eleitor. Pergunta se tem filhos ou se é casado apenas para levantar a suspeita de que um homem solteiro aos quarenta e tantos anos talvez seja homossexual.
É disso que se trata. Marta finge que não sabe a respeito do que fala sua campanha porque a posição preconceituosa e enrustida não cabe bem em quem fez a vida militando do lado oposto.
Este, em tese, seria seu álibi para negar a mensagem subjacente. Na prática, porém, a intenção está lá exposta em toda a sua dimensão. Mais não fosse, porque Kassab já era solteiro quando não tinha mais que um dígito nas pesquisas, mas isso só passou a ser uma insinuação de possível "defeito" quando a ultrapassagem fez o PT perder, junto com as esperanças, as estribeiras.