quarta-feira, 15 de outubro de 2008

CLIPPING DA EMBUSTEIRA

Renata Lo Prete, FSP:

Leituras 1.
A campanha de Marta testou o comercial "Sabe se é casado? Sabe se tem filhos" antes de ir ao ar. Colaboradores da ex-prefeita dizem que, nos grupos de discussão, as questões levantadas pela peça não adquiriram a conotação que desde domingo dá dor de cabeça aos petistas.

Leituras 2. A direção nacional do PT contabilizava ontem dezenas de e-mails, alguns enviados por representantes da intelectualidade ligada ao partido, criticando duramente o comercial.

Nem ele. Memória de um veterano da campanha de 1988: Maluf, que é Maluf, não fez comercial para perguntar se Erundina era casada.

* * *

Ricardo Noblat:

A primeira geração dos aloprados do PT empurrou Lula para o segundo turno da eleição presidencial de 2006. Parecia certa a vitória dele no primeiro turno. Aí os aloprados entraram em cena, ajudaram a forjar um dossiê contra José Serra e Geraldo Alckmin, ambos do PSDB. E aí... Bem, o resto é História.

A segunda geração dos aloprados do PT empurrou Marta Suplicy para a lixeira da eleição municipal de 2008. A derrota dela parecia certa desde o fim do primeiro turno. Aí os novos aloprados produziram um comercial de televisão perguntando se Gilberto Kassab era casado e tinha filhos. E aí...

(...)

Marta perdeu para ela mesma. Primeiro porque avalizou a veiculação do comercial. Segundo porque durante o debate foi agressiva, arrogante e antipática em excesso. No futuro se dirá que ao chegar ao poder o PT fez tudo o que condenou quando era oposição - até mesmo copiar Collor.


* * *

Dora Krammer, Estadão

A situação do PT em São Paulo era difícil. Praticamente impossível para Marta Suplicy virar o jogo sobre Gilberto Kassab, segundo avaliação do próprio Palácio do Planalto, expressa na formal participação do presidente Luiz Inácio da Silva.

De todo modo, o partido e a candidata tinham duas semanas para administrar a desvantagem da melhor maneira possível e tentar sair da disputa, senão com uma vitória quantitativa, ao menos com seu capital político razoavelmente preservado no maior colégio eleitoral do País para enfrentar a dura luta pela sucessão de Lula.

(...)

Que o PT perdeu de vez a tramontana na presente disputa, isso ficou claro no domingo quando entrou no ar a propaganda com perguntas - "é casado?" "tem filhos?" - cheias de múltiplos sentidos.

O surpreendente, e ainda carente de explicação sob o ponto de vista do marketing político, é o partido não enxergar o potencial de autodesmoralização contido nesse tipo de estratagema.

(...)

Aqui, no caso de Gilberto Kassab não se trata de uma ação exposta por ele ao juízo público. Aliás, nem se trata de uma questão, como no episódio arquitetado por Fernando Collor. A campanha petista agora recorreu à pior das torpezas que é a insinuação.

Alega que o eleitor precisa conhecer o candidato. É verdade. Então, se o sentido era o esclarecer, caberia à campanha petista falar claro, como fez Collor em sua sordidez e Marta ao não submeter sua felicidade às estruturas morais do alheio.

A propaganda não informa qual o dado da vida do prefeito está sendo subtraído do eleitor. Pergunta se tem filhos ou se é casado apenas para levantar a suspeita de que um homem solteiro aos quarenta e tantos anos talvez seja homossexual.

É disso que se trata. Marta finge que não sabe a respeito do que fala sua campanha porque a posição preconceituosa e enrustida não cabe bem em quem fez a vida militando do lado oposto.

Este, em tese, seria seu álibi para negar a mensagem subjacente. Na prática, porém, a intenção está lá exposta em toda a sua dimensão. Mais não fosse, porque Kassab já era solteiro quando não tinha mais que um dígito nas pesquisas, mas isso só passou a ser uma insinuação de possível "defeito" quando a ultrapassagem fez o PT perder, junto com as esperanças, as estribeiras.