Um trecho de um excelente post de Sol Moras sobre Paulo Coelho:
Acabei de ler a biografia do Paulo Coelho escrita pelo Fernando Morais. (...) O que salta aos olhos no livro é a obsessão do "Mago" com o sucesso na literatura. E não era um sucessinho que ele almejava, o alvo era o sucesso planetário. (...) O seu estouro como escritor, no entanto, só aconteceu depois que ele redescobriu a fé católica. Li o "Diário de um Mago" na época e simpatizei com o cara, principalmente quando percebi a crítica cultural brasileira metendo o pau. Qual o segredo do êxito do Paulo Coelho? Se eu soubesse, também já estaria milionário, mas posso dar um palpite. Ele escreve o que as pessoas querem ler, histórias edificantes onde os sonhos se realizam, onde cada um pode se identificar como um "guerreiro da luz" lutando contra todas as probabilidades até realizar a sua "lenda pessoal".
É... Bom... Persega... O post é sobre Milton Hatoum...
É verdade. Mas peguei este trecho do blog de Sol Moras exatamente por que:
1 - Não vejo nenhum pecado em quem escreve o que as pessoas querem ler;
2 - Hatoum não escreve histórias edificantes em que sonhos se realizam.
Pronto! Juntei os dois. E é isso mesmo. Não tenho a vivência manauara de meu querido amigo Haroldo Mourão. Não conheço Manaus. O mais perto que estive desta cidade foi quando morava em Brasília. Portanto, não tenho nenhuma afinidade com o local. E Hatoum parece não ter afinidades com histórias que acabem bem. Isso não é um demérito, claro e evidente. Em “Cinzas do Norte”, tudo é destruição. Todas as relações se decompõem. Não há beleza que resista à intolerância – e quando digo intolerância, é de todos os personagens. Todos eles, no romance, vivem para si. É o caso de Jano, um rico comerciante que explora juta nos anos 60 e que vive ridicularizando, sabotando e cerceando o talento de seu filho, Mundo, para a arte. Mundo, por sua vez, só pensa na sua arte. Não procura entender as limitações do pai. Tudo é confronto. No meio deste fogo cruzado, encontramos Alicia, mãe de Mundo, que casou por interesse, vive bêbada e gasta fortunas em jogo. “Cinzas do Norte” não comporta finais felizes. É o anti-Paulo Coelho. No começo, estava achando a história meio truncada. Mas depois, ela deslancha. Sem “guerreiros da luz”, sem esperança de salvação, tudo muito humano.
Misturei tudo isso porque concordo com Sol Moras quando começou a simpatizar com Paulo Coelho assim que a crítica começou a lhe descer a lenha – confesso que o fato dele ser vascaíno ajudou também. E também pra dizer que fiquei desconfiado quando a crítica começou a incensar Hatoum. Até onde li, incenso merecido.