sábado, 16 de maio de 2009

"MEMÓRIAS DO SUBDESENVOLVIMENTO"

image É um filme demasiado humano e retrata a vida de Sergio, um integrante da burguesia cubana cuja família toda se mandou da ilha e foi pros Estados Unidos. Ele sente-se bem ali. E quer ver no que esta história de revolução vai dar, apesar de não ser um revolucionário. O diretor Tomás Gutiérrez Alea, já falecido, fez uma obra ousada. Ironicamente, seu protagonista interpretado pelo ator Sergio Corrieri diz que, se antigamente, Havana era conhecida como a Paris do Caribe, agora, ou seja, na ocasião em que se passa o filme (1968), é a Tegucigalpa do Caribe. E não podemos dizer que isso é um upgrade, certo?

Gutiérrez ainda podia colocar certas palavras na boca de um outro personagem, Pablo: "Revolução pra quê? Pra passarmos fome como os haitianos?"

O que incomoda Sergio não é apenas a decadência do país: é o subdesenvolvimento. Num determinado trecho, ele diz:

"É um dos sinais do subdesenvolvimento: incapacidade de relacionar as coisas para juntar experiências e se desenvolver."

E não é mesmo?

"Esta ilha é uma armadilha", ele diz quando a crise dos mísseis se aproxima. "Somos pequenos e pobres demais. É uma dignidade muito cara."

Paulo Francis também falou sobre "Memórias do subdesenvolvimento":

"Nenhum filme brasileiro dá certo porque todos os cineastas tentam demagogicamente se colocar na posição dos humildes. É falso, visceralmente. Sempre que vejo algum favelado em filme brasileiro tenho vontade de sair gritando: "É um santo! É um santo!". Alguém deveria exibir no Brasil "Memórias do subdesenvolvimento", "Memorias del subdesarrollo", de Alea Gutiérrez, o grande diretor cubano. Pobre é escroto, primitivo, infantil. Gutiérrez mostra."

E mostra mesmo.

Altamente indicado.