Em primeiro lugar, só um roteirista como Charlie Kaufmann poderia escrever o roteiro de "Brilho eterno de uma mente sem lembrança". Qualquer outro se perderia naquele emaranhado de situações que se passam dentro de um cérebro cujas lembranças estão sendo apagadas e onde situações se misturam a tal ponto que qualquer autor pararia e se perguntaria: "Caralho, e agora?"
É claro que Kaufmann deve ter parado por alguns instantes (ou horas ou dias) e se visto num beco sem saída. Mas ele consegue sair.
A propósito: quantos baseados é preciso fumar para se ter uma ideia como essa? Não parece que ela foi nascida numa rodinha de gente usando a manga-rosa? Aí, lá pelas tantas, alguém manda:
- Pô, tive uma ideia! - e começa a falar sobre uma história que se passa dentro de uma mente que quer ser apagada. É claro que um roteiro desses não se escreve chapado. A rigor, nem com um simples copo de cerveja. Daqueles de geleia. Mas que a ideia pode ter pintado numa rodinha de marofeiros, ah!, parece.
Em alguns momentos, o filme me parece teatralizado, como se o diretor tivesse com um encosto do Luiz Fernando Carvalho. Mas isso não diminui a história. Belo trabalho de edição! Bela atuação de Jim Carrey. E, meu Deus, o que são as virilhas de Kate Winslet! Visão do paraíso! Total!
Muitos roteiristas e aspirantes a reclamam de Syd Field. Eu também não gosto da cagação de regra que chega a definir até o tamanho das fichas nas quais você tem que escrever uma cena. Palhaçada. Mas até Kaufmann usa o paradigma. Há dois pontos de virada claramente identificáveis na história. Fica aí um exercício para quem leu o "Manual do Roteiro" de Sidney Campos...
Fala aê, Carlinho!!! Tu manda bem, hein!