Apesar de ser uma autobiografia do tempo em que ficou preso no Estado Novo, o livro mais parece um romance. Não estou reclamando, bem entendido. Apenas fazendo uma constatação. É totalmente kafkiana a situação do autor: ele foi preso sem nenhuma acusação formal. Apenas o levaram de Maceió para Recife e de Recife para sabe-se lá onde. Numa dessas transferências, num navio infecto, encontrou um revolucionário que afirmava que quando sua revolução triunfasse, fuzilaria todos os ateus. Um pobre ingênuo: é exatamente o contrário que as revoluções fazem: matam os crentes.
É curioso ver como Graciliano Ramos não apostava em seu romance “Angústia”, que, particularmente, considerado um dos melhores já escritos no país. Angustiado vivia o autor que repetia para o editor José Olympio que o livro não venderia sequer 100 exemplares.
Graciliano, como qualquer um sabe, era comunista e como nós sabemos, os comunistas estão sempre do lado certo da história, sempre do lado do progresso, da justiça social, das minorias. Certo? Bom, quanto às minorias, em “Memórias do Cárcere”, Graciliano se pergunta se sua repulsa ao homossexualismo é natural. No livro, ele usa a palavra “nojo”.
Em tempos onde o Çábio de Garanhuns relativiza a prisão de presos políticos, é sempre bom dar uma olhada para ver o que significa entrar em cana por delito de opinião – isto é, quando se sabe o motivo pelo qual a pessoa foi presa, porque em “ditaduras policiais” (a expressão é de Graciliano) nunca se sabe.
Em dado momento, o autor se vê escandalizado com um dos presos que era ladrão e que, mesmo tendo a chance de se recuperar, não quis. Continuou no desvio – o que mostra que a opção pelo crime, bem a de sair dele, é puramente individual.
Para finalizar, gostei do livro, mas não posso deixar de fazer uma observação em relação à Graciliano enquanto pessoa em nível de gente e que não tem nada a ver com sua obra – que admiro: ele era chato pra caralho. Leiam e vocês saberão porquê.