O Brasil é um país esquisito: aqui, todos os candidatos ao terceiro andar do Planalto se vangloriam de ser de esquerda, o que mostra que estamos longe de seu uma democracia plena. Mas isso não se restringe apenas ao campo político. Na imprensa, ainda se manifesta um certo preconceito com aquilo que não é de esquerda. Veja esta nota da coluna de hoje de Ancelmo Gois:
A Lan Chile foi privatizada por Pinochet em 1989 e comprada por um consórcio liderado por Sebastián Piñera, atual presidente direitista do Chile, cujo irmão, José Piñera, foi um importante ministro da ditadura.
Em março, como prometera na campanha, Piñera vendeu suas ações para antigos parceiros no negócio: a família Cueto.
Em negrito, a expressão “atual presidente direitista do Chile”.. Direitista ainda é xingamento por aqui. Ou uma palavra que serve para marcar o não-esquerdista (o que não compactua com progressismo, seja lá o que for isso). Não me incomoda o fato de me acharem direitista. Mas o curioso é que não se usam expressões como “o presidente esquerdista da Coreia do Norte”, “o presidente esquerdista de Cuba”, “o presidente esquerdista da Venezuela” como se a esquerda fosse um imenso vale de virtudes e só a direita pudesse ser um poço de radicalismos, corrupção e autoritarismo. E como vemos a esquerda anda de braços dados com as ditaduras mais ferozes de nossos tempos. O Chile é uma democracia que permite a alternância de poder.
Herança possivelmente do regime militar, que opunha a esquerda que iria nos “libertar” do jugo da ditadura, impondo-nos a ditadura comunista, aquela que construiria um novo homem. Nem que fosse a bala. Naquela ocasião, a direita apoiara o golpe, não é mesmo? A esquerda era pelo legalismo (prendo o riso).
(E nem me venham falar que o irmão de Piñera foi ministro de Pinochet, porque Sarney, o homem incomum de Lula, foi presidente do PDS, herdeiro direto da ARENA, o partido da ditadura e hoje posa de democrata, apesar de ser dono de um estado inteiro com as bençãos do Çábio de Garanhuns e seu Poste de Estimação, aquele que pediu à secretária da Receita Federal para liberar a barra da primeira famiglia maranhense.)
PS – Ah, Piñera cumpriu sua promessa.
