Há anos, com pedregulhos, lixos e ervas, edifiquei Tilantlán. Lembro-me da muralha, das portas amarelas com a marca digital, das ruas estreitas e malcheirosas que habitava uma plebe barulhenta, do verde Palácio do Governo e da vermelha Casa dos Sacrifícios, aberta como uma palma, com seus cinco grandes templos e suas calçadas inumeráveis. Tilantlán, cidade cinza ao pé de uma pedra branca, cidade agarrada ao chão com unhas e dentes, cidade de pó e preces. Seus moradores — astutos, cerimoniosos e coléricos — adoravam as Mãos, que os fizeram, mas temiam os Pés, que podiam destruí-los. Sua teologia, e os renovados sacrifícios com os que tentaram comprar o amor das Primeiras e certificar-se da benevolência dos Últimos, não evitaram que numa alegre manhã meu pé direito os esmagasse, com sua história, sua feroz aristocracia, seus motins, sua língua sagrada, suas canções populares e seu teatro ritual. E seus sacerdotes nunca desconfiaram que Pés e Mãos não eram mais que as extremidades de um mesmo deus.
Bravo, PF!
Há um dia