CENA 1. HALL DO PRÉDIO DE CARLINHOS. INT. DIA.
Hall de um prédio comum. A porta do elevador se abre. Dele, sai CARLINHOS (um jovem de seus 20 e poucos anos, magro, bem vestido, com cara de sério). Ele se dirige apressado para o porteiro, conhecido como PESSANHA, que bebe um café num copo de plástico.
PESSANHA - Bom dia, seu Carlinhos.
CARLINHOS - Pessanha, tem um urso no meu banheiro!
PESSANHA se engasga com o café.
PESSANHA - Como é que é?
CARLINHOS - Tem um urso no meu banheiro! Acordei, fui tomar banho e quando eu abri o box, vi o bicho lá dentro! Quase levei uma patada! Tem um urso no meu banheiro!
PESSANHA - Será que ele subiu pelo elevador de serviço?
CORTA PARA:
CENA 2. CASA DE PESSANHA. COZINHA. INT. DIA
PESSANHA conversa com LAURINETE, sua mulher.
LAURINETE - E tu acreditou nisso, Pessanha?
PESSANHA - Ele tava muito sério, Laurinete! E o seu Carlinhos é um homem muito certinho, muito na dele...
LAURIENTE - Será que ele usa tóchico?
PESSANHA - E eu sei lá, Nete? A única coisa que eu sei é que quando eu contei pro síndico, ele deu uma gargalhada na minha cara... Disse que isso é coisa de maluco...
LAURINETE - Mas o síndico foi lá ver?
PESSANHA - Não. Disse que não precisava...
LAURINETE - Do jeito que esse síndico é bundão, ele não foi por que teve medo...
CORTA PARA:
CENA 3. BOTEQUIM. EXT. DIA.
PESSANHA, de camiseta e bermuda, toma um chope com uns amigos. O clima é de descontração. Alguém, que ainda não vemos, pega PESSANHA bruscamente pela camiseta. Ele se assusta. Os amigos de chope também. Vemos que quem puxou PESSANHA foi CARLINHOS.
CARLINHOS - Eu não disse pra você tomar uma providência?
PESSANHA - (ASSUSTADO) Eu... Eu... Eu tô de folga, seu Carlinhos!
CARLINHOS - (PUTO) Eu não disse pra você falar com o síndico, com a Defesa Civil, com o Zoológico ou até com a Nasa se fosse preciso?!
PESSANHA - Mas o que foi agora?
CARLINHOS - O crocodilo!
PESSANHA - Hã?
Reação dos amigos de PESSANHA.
CARLINHOS - O crocodilo perto da pia! Entrei no banheiro e quando fui escovar os dentes, não pude nem abrir o armário! Tinha um crocodilo abrindo uma boca enorme na minha direção!
PESSANHA - Não era jacaré?
CARLINHOS - Crocodilo! Daqueles do Rio Nilo! E embaixo da pia! Não consegui escovar os dentes, Pessanha! Olha o bafo! Vou ter que trabalhar assim!
CORTA PARA:
CENA 4. HALL DO PRÉDIO. INT. DIA.
PESSANHA trocando uma lâmpada. Chega CARLINHOS, com um olho roxo.
PESSANHA - Canguru, seu Carlinhos?
CARLINHOS - Fazendo cocô no meu vaso! Como é que se pode viver assim?
PESSANHA - Quer saber duma coisa, Seu Carlinhos, eu acho que o senhor não bate bem!
CARLINHOS - Mas o canguru bate! Tá vendo o meu olho roxo! Ele não quis nem conversa!
PESSANHA - É urso, canguru, crocodilo! Isso não é normal!
CARLINHOS - Também acho! Mas podia ser pior. Podia ser um tiranossauro!
CORTA PARA:
CENA 5. FACHADA DO PRÉDIO. EXT. DIA.
REPÓRTER DE TV diante do prédio. LAURINETE ali, chorando. Movimento de curiosos.
REPÓRTER - O porteiro do prédio, conhecido como Pessanha, entrou no apartamento para verificar as informações do morador, conhecido como Carlinhos, e está desaparecido há três dias!
LAURINETE - Volta, Pessanha!
CARLINHOS - (pega o microfone) Eu disse pra ele tomar cuidado! Eu não sei há quanto tempo o leão tá sem comer!
Na aflição de CARLINHOS, vamos a FADE. CRÉDITOS.