Não acredito que ninguém que tenha mais de dois neurônios acredite que seja bom morar numa favela. Acreditem em mim: moro perto de duas e não é nem um pouco legal a vida desse pessoal que hoje em dia tem que conviver, como se fosse a coisa mais normal do mundo com moleques que 14 anos que passeiam pilotando motocicletas ilegalmente tendo como carona um outro moleque de 14 anos com um fuzil na mão.
Antigamente, a favela tinha aquele componente telúrico onde se reuniam os compositores para fazer sambas maravilhosos. A imagem é tão bonita e, de fato, gerou canções tão belas que até hoje tem gente que pensa assim. Isso acabou. Favela agora é feudo de traficante e de miliciano. E de deputados que, quando não estão envolvidos com estes, estão envolvidos com aqueles. Só isso pode justificar o nascimento de "comunidades" em Vargem Pequena, um nada que fica perto de lugar algum, sem estrutura alguma, nem de transportes - que era o que justificava a construção dos barracos no Rio de Janeiro de antanho.
O personagem de Moreira da Silva, em "Na subida do morro" não poderia mais "dar no dono do morro". Ato contínuo, seria colocado no "microondas" pelos proprietários das favelas, estes desvalidos que, como interpretam os sociológos deste Bananão (copyright Ivan Lessa) só entraram nesta vida porque não conseguiram coisa melhor. Juro: ainda tem gente que pensa assim!
Ali Kamel levantou novamente a bola da remoção. Palavra que, pelo que li nos comentários não parece ser mais tão satanizada assim como pensei. Quer dizer, só pelos de sempre, que acham que favela é bom. Claro: não moram nelas e só vão lá quando os donos deixam, pra ver apresentações de grupos como Afro Reggae e Nós do Morro.
Agora vem o caso dos muros. Claro que começou a gritaria dos de sempre. Até o Saramago, que há anos não se preocupa em escrever um romance que preste, resolveu dar um pitaco, comparando os muros dos morros do Rio ao de Berlim. Saramago disse que Israel era um campo de concentração de palestinos. Quando perguntaram a ele - a daqui jamais faria uma pergunta que não lhe melasse os bagos com a babaovice -cadê as câmaras de gás?, o cínico respondeu: "Não estão aqui. Ainda." E ainda dão ouvidos - e olhos - para ele.
Não, os muros podem não resolver os problemas, mas onde está a segregação? Serão construídos nos limites das favelas, láááá em cima. Ninguém será proibido de entrar e subir nestes recantos que tanto comovem a esquerda. Quer dizer, proibido até pode ser... Depende do traficante local.
Acho que os seres "pensantes" (sempre entre aspas por aqui) ficaram um tanto pasmos ao descobrir que os pobres (51%) que eles juram defender não pensam igual a eles como revelou a recente pesquisa do Datafolha. A maioria é a favor do muros. Será que é por que vão ter um pouco de sensação de ordem nos locais? Um pouco de presença do poder público por lá? O pessoal do Dona Marta é a favor. O da Rocinha é contra, diz César Maia em seu ex-blog. E veio um representante da Associação dos Moradores de lá reclamar do muro. Ai dele se fosse a favor, né? Primeiro ele tem que perguntar pros donos das metrancas o que eles acham e, como quando os confrontos acontecem, o movimento foge pro mato, não seria bom dar de cara com uma barreira de três metros de altura.
Repito: não sei se os muros servirão pra alguma coisa prática. Mas esse papo de segregação é demagogia. Bom, deixou aqueles que amam o povo e querem pensar por ele com cara de tacho, já serviu pra alguma coisa: ver o quão distantes estão um do outro.
E como não há nada que seja ruim que não possa piorar, eis que a Câmara dos Vereadores do Rio aprovou uma lei que já está sendo chamada de Bolsa-Invasão. Leia e você verá por que o Rio de Janeiro está tecnicamente morto*...
* By Francis.