Até agora me pergunto se os flashbacks que aparecem no filme do personagem caipirão Joe Buck (o pai de Angelina Jolie, quer dizer, Jon Voight) são excessivos... É claro que a relação dele com a avó pode até explicar sua naturalidade em relação às mulheres mais velhas, mas ainda tenho minhas dúvidas quanto aos outros. Não sei até que ponto servem para "modernizar" o filme, que é de 1969, com imagens fragmentadas, dando-lhe um ar, sei lá, meio contracultural. É claro que falo do conforto do futuro, 40 anos depois do lançamento do filme, que provocou impacto na época e levou a estatueta de Melhor Filme em 1970. E pensar que era um filme pesado...
Começamos com a confiança e o otimismo de Buck saindo de sua desolada cidadezinha no Texas com um objetivo claro: ser garoto de aluguel. Ou seja, começamos no valor positivo, a esperança calcada na ingenuidade do caubói que pensa que tudo dará certo rápido. É um homem bonito, alto, louro e de olhos azuis. Mas é um caipira na cidade grande - clichê - que é enrolado por Rico, que só é chamado de Ratso, porque é um trambiqueiro de marca maior. Acabam se tornando grandes amigos - uma amizade sincera e dividindo o que acabará se tornando uma não tão "saudosa maloca".
Uma boa premissa para defini-lo: nada é tão ruim que não possa piorar. Da esperança ao roubo de tomates para fazer gororobas e não morrer de fome é um pulo. Joe Buck é um homem que tenta ser durão, mas não consegue - só nos últimos momentos e quando a situação deles chega a um ponto de não-retorno. Sua carreira de garoto de aluguel está sempre por deslanchar. Rico sonha com a ensolarada Florida: riqueza e coqueiros. Sonhos inviáveis - acontece em qualquer lugar, até no país que os torna mais possíveis. Ou tornava.
O final de Rico é previsível a partir da primeira tosse. Posso até dizer que é arquetípico, aquela coisa de Moisés e a Terra Prometida... Mas é boa a estrutura do roteiro que, aos poucos, vai transformando protegido em protetor.
Ah, a trilha sonora é do cacete. Fiquem com "Everybody's talking", com Harry Nilsson, que abre o filme.