quinta-feira, 20 de maio de 2010

HERESIAS MEDIEVAIS, de Nachman Falbel – Parte 3

image Continuando a nossa saga sobre as heresias da Idade Média, vamos ver a heresia de Pedro de Bruys e a dos cátaros, um dos principais movimentos da época. Como a heresia cátara é muito complexa, foi preciso desmembrá-la. Será retomada no próximo post.

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Quais as características da heresia de Pedro de Bruys?

De Bruys se atinha, ao que tudo indica, apenas aos Evangelhos, colocando em dúvida os demais livros do Novo Testamento, chegando mesmo a desconfiar da autenticidade da Epístola de São Paulo e de outros Apóstolos. Por outro lado, ele entendia que a Igreja, não o conjunto de suas propriedades ou bens materiais, mas a unitate congregatorum fidelium dos que creem nos Evangelhos, era o único verdadeiro testemunho apostólico, desprezando todo o resto, inclusive a sua hierarquia.

Seus seguidores rejeitaram o batismo das crianças, pois estas não poderiam ter uma fé pessoal consciente. Outro aspecto peculiar dos petrobrusianos é sua rejeição e condenação da cruz como símbolo tradicional do Cristianismo. Negavam também a eucaristia e o sacrifício da missa, sob a justificativa de que o corpo de Cristo foi dado apenas uma única vez, isto é, durante a última ceia.

O que distinguia a heresia dos cátaros das outras heresias do período?

O seu caráter dualista, que, nesse sentido, significa a crença de que a bondade existe apenas no mundo espiritual do deus bom e que o mundo material é mau e foi criado por um deus mau ou espírito chamado Satã. Esta concepção está próxima das seitas gnósticas que também tinham as mesmas ideias e foram igualmente disseminadas no início da Idade Média, nos Bálcãs e no Oriente Próximo, pelas seitas dos paulicianos e bogomilos. Os cátaros relacionam-se com estes dois últimos, que eram conhecidos no Ocidente como publicani (corruptela de paulicianos e também eco dos publicanos do Novo Testamento) ou bougres (isto é, búlgaros, pois na Bulgária localizavam-se os bogomilos) e mais tarde como cathari (=puros) ou albigenses, da cidade de Albi, um dos centros de influência herética no Sul da França. A palavra albigense muitas vezes se refere a todos os heréticos da região, inclusive os valdenses.

Quais os tipos de fontes usadas para se estudar as heresias cátaras?

Antes de mais nada, é bom salientar que muito pouco se sabe disso. Talvez os tratados cátaros, que pertenciam a uma pequena elite esotérica, tivessem sido eliminados, sem deixar vestígios, pelo aparato inquisitorial.

Entretanto, ainda existem três fontes para estudar a heresia:

a) os processos deixados pela inquisição;

b) os escritos dos polemistas que, para combaterem uma heresia, detalhavam os seus erros;

c) os manuais dos inquisidores compostos para orientar os seus iniciados no combate à heresia.

Como era a organização da igreja cátara?

Os bispos eram secundados por diáconos itinerantes, intermediários entre os bispos e os Perfeitos, cabendo-lhes a administração material das igrejas. Possuíam casa onde os Perfeitos viviam em comunidade e recebiam os neófitos para o estágio obrigatório. A nobreza herética confiava seus filhos aos Perfeitos, sobretudo as filhas, do mesmo modo que a nobreza católica as faziam entrar no convento. Essas casas, espalhadas por todo o Languedoc Ocidental, eram dirigidas por um superior ou superiora, além de serem uma instituição pública até o momento da Cruzada organizada contra os heréticos.

O que o crescimento da Igreja Cátara colocou em xeque?

O seu voto de probreza, pois o desenvolvimento de igrejas e bens materiais era inevitável. A acusação de avareza e cupidez imputada à Igreja Romana foi também lançada contra a Igreja Cátara.

Qual a principal divergência dentro da Igreja Cátara?

Havia dois partidos. De um lado, os que acreditavam que Satã, o criador do mundo, fora um anjo de Deus caído em desgraça. Do outro, os que julgavam ser ele uma divindade independente.

Qual era o consenso geral da Igreja Cátara?

A matéria é má e o homem um alienado habitando um mundo mau. O objetivo principal era que o homem deveria restaurar este mundo para a comunhão com Deus. Acreditavam na redenção dos espíritos, embora nem sempre na redenção universal. Acreditavam, igualmente, na transmigração das almas do homem para o homem, e do homem para a besta, pois os animais, segundo eles, também possuíam almas.

Tinham regras para jejuar e a carne era proibida. As relações sexuais eram vedadas e tinham horror à procriação, pois implicava o aprisionamento de seus espíritos ao mundo da carne. Acreditavam piamente no celibato e em qualquer forma ascética de renúncia ao mundo, olhando favoravelmente o suicídio.

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PARTE 1

PARTE 2